R$ 23 Bilhões em IA Soberana Enquanto Jovens Perdem Empregos — Por Que Este Paradoxo Define a Estratégia Brasileira Mais Importante da Década
September 3, 2025 | by Matos AI

Duas notícias das últimas 24 horas capturam perfeitamente o momento histórico que vivemos: o governo brasileiro anuncia investimento de R$ 23 bilhões em inteligência artificial “inclusiva e soberana” enquanto estudos mostram que jovens profissionais estão perdendo vagas para a automação. Não é coincidência. É o reflexo de uma transformação que exige estratégia, não apenas reação.
Como alguém que passou os últimos 25 anos no ecossistema de inovação brasileiro, vejo neste momento não uma contradição, mas uma oportunidade única de o Brasil se posicionar como protagonista global em IA responsável.
O Brasil Aposta Alto na Soberania Digital
A ministra Esther Dweck revelou no Painel Telebrasil 2025 um plano ambicioso: R$ 23 bilhões até 2028 para desenvolver uma política de IA “inclusiva, soberana, ética e centrada nas pessoas”. Segundo report by Agência Brasil, o investimento incluirá infraestrutura, capacitação de servidores, governança e aquisição de supercomputadores.
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Mas vamos além dos números. O que realmente importa é a estratégia por trás deles.
O plano prevê parcerias entre Serpro e Dataprev para criar uma “nuvem nacional segura” para dados estratégicos, evitando dependência de nuvens públicas estrangeiras. É uma jogada geopolítica inteligente em um mundo onde dados são o novo petróleo.
Quando vejo iniciativas como essa, lembro dos primeiros programas de apoio a startups que ajudei a estruturar no governo federal. A diferença agora é a escala e a urgência. Não estamos mais falando de nichos tecnológicos, mas da infraestrutura digital que definirá nossa competitividade nas próximas décadas.
O Paradoxo Geracional no Mercado de Trabalho
Enquanto o governo investe pesado em IA, um estudo da Universidade de Stanford traz dados preocupantes: queda de 6% na taxa de emprego entre jovens de 22 a 25 anos nos últimos três anos, sendo 20% nas ocupações suscetíveis à automação por IA. Segundo Veja report, áreas como engenharia de software, marketing e vendas são as mais afetadas.
Paradoxalmente, a demanda por profissionais experientes de 35 a 49 anos nesses mesmos setores aumentou 9%. Por quê? Porque a IA ainda depende de experiência humana para validar resultados e tomar decisões estratégicas.
Esse cenário me faz pensar na evolução do conceito de “fluência em IA”. De acordo com matéria da Folha, as postagens de vagas com referências a IA quase triplicaram em um ano, mas muitas vezes sem definição clara do que isso significa.
A verdade é que “fluência em IA” não é um skill técnico específico, mas uma nova literacia digital que inclui desde o uso básico de ferramentas generativas até a capacidade de desenhar estratégias que combinam automação com valor humano.
O Que Significa Ser “Fluente em IA” em 2025
Baseado no que tenho visto no mercado, fluência em IA envolve:
- Capacidade de prompt engineering: Saber fazer as perguntas certas e estruturar contextos eficazes
- Compreensão de limitações: Entender quando a IA é útil e quando não é
- Integração de workflows: Incorporar ferramentas de IA em processos existentes
- Pensamento crítico: Validar outputs e identificar vieses
- Adaptabilidade: Capacidade de aprender novas ferramentas conforme surgem
O mais interessante é que essas habilidades são mais humanas do que técnicas. Não é sobre programar algoritmos, mas sobre pensar estrategicamente sobre como amplificar capacidades humanas com tecnologia.
Governança Global e Desafios Éticos
Enquanto o Brasil estrutura sua estratégia nacional, outros países avançam em regulamentação. A China, por exemplo, tornou obrigatória a identificação de conteúdo gerado por IA, uma das primeiras medidas do tipo no mundo.
A Austrália anunciou que exigirá das grandes tech que impeçam o uso de ferramentas para criar imagens de nudez geradas por IA, especialmente contra crianças.
E temos até casos geopolíticos complexos, como a Venezuela acusando os EUA de usar IA para forjar vídeos de ataques militares.
These examples show that governança de IA não é apenas uma questão técnica, mas geopolítica. O Brasil está bem posicionado para liderar discussões sobre IA ética e responsável, especialmente considerando nosso histórico de diplomacia multilateral.
Por Que a Confiança Ainda É o Principal Obstáculo
Uma pesquisa da Capgemini com 1.500 executivos revela que apenas 2% das empresas implementaram agentes de IA em escala. A confiança em agentes autônomos até diminuiu no último ano, com 40% dos líderes vendo mais riscos que benefícios.
Isso me lembra dos primeiros dias das startups no Brasil. Havia ceticismo, resistência, medo do novo. Mas quem soube navegar essa transição com responsabilidade e visão estratégica saiu na frente.
A mesma dinâmica está acontecendo agora com IA. As organizações que conseguirem equilibrar adoção responsável com inovação agressiva terão vantagem competitiva sustentável.
Como Construir Confiança em IA
Em minha experiência ajudando empresas a adotar novas tecnologias, alguns fatores são fundamentais:
- Transparência nos processos: Documentar como a IA toma decisões
- Governança clara: Estabelecer responsabilidades e limites
- Implementação gradual: Começar com casos de uso de baixo risco
- Team training: Investir em educação contínua
- Métricas de qualidade: Monitorar performance e bias constantemente
A Transformação da Educação e do Trabalho
Fred Trigueiro, em artigo no Valor Econômico, faz uma reflexão importante sobre educação em tempos de IA: a chegada da IA não é uma ameaça pela facilidade de “copiar e colar”, mas uma oportunidade de transformar a educação para privilegiar pensamento crítico e criatividade.
Essa visão alinha com o que tenho defendido sobre o futuro do trabalho. As habilidades CACACA (Criatividade, Autonomia, Colaboração, Adaptabilidade, Conexão e Afeto) se tornam ainda mais relevantes em um mundo com IA.
Dom Borys Gudziak, em reflexão sobre o Dia do Trabalho americano, destacou que a IA deve enriquecer, não diminuir, a dignidade do trabalho. É uma perspectiva que ressoa profundamente com a proposta brasileira de IA “centrada nas pessoas”.
Oportunidades Estratégicas para o Brasil
Vejo pelo menos quatro frentes onde o Brasil pode se destacar globalmente:
1. IA para Inclusão Social
Com nossa experiência em programas sociais digitais como Auxílio Brasil e PIX, temos know-how para desenvolver aplicações de IA que reduzam desigualdades em vez de amplificá-las.
2. Agronegócios e Sustentabilidade
Somos líderes mundiais em agtech. IA aplicada à agricultura sustentável pode ser nosso diferencial competitivo global.
3. Saúde Pública
O SUS, mesmo com suas limitações, é um dos maiores sistemas de saúde pública do mundo. IA para gestão e atendimento em saúde pública tem potencial transformador.
4. Democracia Digital
Podemos liderar discussões sobre como usar IA para fortalecer, não enfraquecer, processos democráticos.
Como Se Preparar Para Esta Transição
Para profissionais e empresas, algumas recomendações práticas:
For Professionals:
- Invista em aprendizado contínuo: IA evolui rapidamente, seja curioso
- Desenvolva habilidades complementares: Foque no que humanos fazem melhor
- Experimente ferramentas: Use IA no seu dia a dia para entender limitações e potencial
- Construa rede: Conecte-se com outros profissionais navegando a mesma transição
Para Empresas:
- Comece com casos de uso específicos: Não tente revolucionar tudo de uma vez
- Invest in training: Sua equipe precisa entender IA para usar bem
- Estabeleça governança: Defina políticas claras de uso
- Meça resultados: IA deve gerar valor mensurável
O Momento Histórico Que Não Podemos Desperdiçar
Vivemos um momento único na história brasileira. Temos um governo investindo massivamente em IA soberana, um ecossistema de startups maduro, universidades de qualidade e uma sociedade digital ativa.
O desafio não é tecnológico, é estratégico. Precisamos navegar a tensão entre automação e emprego, inovação e ética, competitividade e inclusão.
O debate na Câmara sobre propriedade intelectual no uso de IA generativa mostra que estamos amadurecendo essas discussões. Mas precisamos acelerar.
Não podemos repetir erros do passado, quando perdemos janelas de oportunidade em tecnologias disruptivas por falta de visão estratégica integrada.
A IA Como Ferrramenta de Soberania
O que mais me entusiasma na estratégia brasileira é o foco em soberania. Não se trata de isolacionismo tecnológico, mas de capacidade nacional de definir nossos próprios parâmetros éticos e estratégicos para IA.
Quando o Google lança o “Nano-banana” para geração de imagens e a CNN questiona a liderança do Google em IA, ou quando vemos operadoras cobrando escala e segurança jurídica para IA, fica claro que o jogo global está apenas começando.
O Brasil tem todas as condições de ser protagonista, não apenas consumidor passivo de tecnologias desenvolvidas em outros países.
Uma Reflexão Final: IA e Propósito
Em toda essa discussão sobre investimentos, regulamentação e mercado de trabalho, não podemos perder de vista uma questão fundamental: para que serve a IA?
A tecnologia é uma ferramenta poderosa, mas ferramentas não têm propósito próprio. O propósito vem dos humanos que as utilizam.
Se usarmos IA apenas para otimizar lucros e reduzir custos, reproduziremos as desigualdades existentes em escala ampliada. Mas se a usarmos para expandir oportunidades, democratizar acesso ao conhecimento e resolver problemas sociais complexos, podemos construir um futuro mais justo e próspero.
A escolha é nossa. E o momento é agora.
No meu trabalho de mentoria com startups e empresas, tenho visto que as organizações mais bem-sucedidas na adoção de IA são aquelas que começam com propósito claro e se mantêm fiéis aos seus valores enquanto experimentam com novas tecnologias. É esse equilíbrio entre inovação e humanidade que pode fazer do Brasil uma referência global em IA responsável.
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