Felipe Matos Blog

Indonésia Ganha 3 Bilionários com IA Enquanto Escassez de Chips Ameaça Expansão Global — Por Que Estas 24 Horas Revelam a Grande Tensão Entre Fortuna e Infraestrutura

December 15, 2025 | by Matos AI

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Sabe aquela sensação de estar na fila do supermercado, carrinho cheio, e o sistema cair? Todo mundo parado, funcionários correndo, e você ali, refém da tecnologia. Agora imagine isso acontecendo na escala de centenas de bilhões de dólares, com gigantes como Microsoft, Google e ByteDance desesperados por chips de memória que simplesmente não existem em quantidade suficiente.

É exatamente isso que está acontecendo na infraestrutura global de IA neste momento. Enquanto a Indonésia comemora três novos bilionários enriquecidos pela explosão de data centers impulsionados por inteligência artificial, o mundo enfrenta uma crise de suprimentos de chips de memória que ameaça desacelerar toda a revolução prometida pela tecnologia.

As últimas 24 horas trouxeram notícias que parecem contraditórias à primeira vista, mas que na verdade revelam a tensão central do momento atual da IA: a distância brutal entre a ambição tecnológica e a capacidade física de sustentá-la.


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Três Bilionários em Um Ano: O Lado Glamouroso da Corrida da IA

Vamos começar pela história que parece saída de um conto de fadas tecnológico. De acordo com a Forbes Brazil, a crescente demanda por centros de dados impulsionou as ações da DCI Indonesia de forma tão explosiva que seus três cofundadores entraram ou subiram dramaticamente no ranking dos mais ricos do país.

Otto Toto Sugiri alcançou a 6ª posição nacional, com fortuna de US$ 11,3 bilhões (R$ 59,89 bilhões). Marina Budiman chegou ao 8º lugar, com US$ 8,2 bilhões (R$ 43,46 bilhões). E Han Arming Hanafia subiu impressionantes 38 posições, atingindo o 12º lugar com US$ 5,3 bilhões (R$ 28,09 bilhões).

Os números impressionam. Mas o que realmente chama atenção é o motivo: data centers. Estruturas físicas que consomem megawatts de energia e hectares de terreno para processar os bilhões de interações de IA que acontecem a cada segundo no mundo.

Este crescimento aconteceu em um ano em que o principal índice da bolsa da Indonésia disparou 17%, elevando a riqueza total do país para um recorde de US$ 306 bilhões. A história poderia terminar aqui como um exemplo clássico de empreendedorismo e visão de mercado.

Mas não termina.

A Crise Silenciosa: Quando os Chips Acabam

No mesmo período em que a Indonésia celebrava seus novos bilionários, uma reportagem da Reuters (via Infomoney) revelava algo que poucos consumidores percebem: uma grave escassez global de chips de memória está forçando empresas de inteligência artificial e eletrônicos de consumo a disputarem estoques cada vez menores.

Lojas de eletrônicos japonesas começaram a limitar a quantidade de discos rígidos que os clientes podem comprar. Fabricantes chineses de smartphones estão alertando para aumentos de preços. E os gigantes da tecnologia — Microsoft, Google, ByteDance — estão se esforçando para garantir fornecimento de fabricantes como Micron, Samsung Electronics e SK Hynix.

Os preços em alguns segmentos mais que dobraram desde fevereiro, segundo a TrendForce. E não estamos falando de produtos de nicho: a pressão afeta quase todos os tipos de memória, desde chips flash usados em pen drives e smartphones até a memória avançada de alta largura de banda (HBM), que alimenta os chips de IA em data centers.

Sanchit Vir Gogia, presidente-executivo da Greyhound Research, resumiu bem: “A escassez de memória deixou de ser uma preocupação no nível de componentes e passou a ser um risco macroeconômico. A expansão da IA está colidindo com uma cadeia de suprimentos que não consegue atender às suas necessidades físicas”.

Deixe isso assentar por um momento. Estamos falando de um risco macroeconômico. Não é sobre atraso na entrega do seu novo notebook. É sobre a capacidade de países e empresas implementarem a infraestrutura que prometeram — e na qual já investiram centenas de bilhões.

Por Que a Crise Está Acontecendo Agora?

A análise da Reuters aponta para uma combinação de fatores que criou a tempestade perfeita:

  • Foco excessivo em chips avançados: Após o boom da IA generativa (impulsionado pelo ChatGPT em novembro de 2022), fabricantes de memória alocaram mais produção para HBM, os chips de altíssima performance usados em IA.
  • Abandono do mercado tradicional: Samsung e SK Hynix, que detêm dois terços do mercado de DRAM, aceleraram a transição para produtos de margens mais altas, reduzindo a produção de chips convencionais como o DDR4.
  • Ciclo inesperado de demanda: Essa mudança coincidiu com um ciclo de substituição de data centers, PCs e vendas de smartphones mais fortes que o esperado — todos dependentes dos chips “comuns” que estavam sendo descontinuados.

Dan Hutcheson, da TechInsights, foi direto: “A indústria foi pega de surpresa”.

Os níveis médios de estoque dos fornecedores de DRAM caíram para duas a quatro semanas em outubro, ante 13 a 17 semanas no final de 2024. Para você ter uma ideia do que isso significa: empresas estão operando praticamente sem margem de segurança.

O Desespero das Big Techs: Implorando Por Suprimentos

Aqui a história fica quase surreal. Em outubro, Google, Amazon, Microsoft e Meta — as empresas mais valiosas do planeta — solicitaram à Micron encomendas ilimitadas, aceitando qualquer quantidade disponível, independentemente do preço.

Leia novamente: independentemente do preço.

Alibaba, ByteDance e Tencent também estão pressionando fornecedores. Uma fonte resumiu a situação com uma frase que deveria estar em letras garrafais: “Todo mundo está implorando por suprimentos”.

A Samsung já aumentou os preços dos chips de memória para servidores em até 60% no mês passado. Jensen Huang, CEO da Nvidia — a empresa que está no centro da revolução de IA —, reconheceu o aumento de preços, mas afirmou que a companhia garantiu fornecimento substancial.

A SK Hynix informou aos analistas que a escassez deve persistir até o final de 2027. Três anos. Não é um soluço na cadeia de suprimentos. É uma era geológica no tempo da tecnologia.

O Projeto Stargate e a Matemática Impossível

Para entender a dimensão do problema, considere o projeto Stargate da OpenAI. A empresa assinou acordos iniciais com Samsung e SK Hynix para um projeto que exigirá até 900.000 wafers por mês até 2029.

Quanto é isso? O dobro da produção mensal global atual de HBM.

Não é ambição. É quase uma impossibilidade física com a infraestrutura existente. E não é só a OpenAI. Cada grande empresa de tecnologia tem planos igualmente agressivos.

O Que Isso Significa Para Além dos Data Centers?

Na minha experiência trabalhando com startups e empresas, uma das lições mais duras é que infraestrutura não cresce no ritmo da ambição. Muitos empreendedores aprendem isso da pior forma: quando têm o produto, o mercado, a demanda — mas não conseguem escalar porque a logística, os fornecedores ou a capacidade operacional simplesmente não acompanham.

O que estamos vendo agora é isso em escala planetária.

Muitos economistas e executivos alertam que a escassez prolongada pode:

  • Desacelerar os ganhos de produtividade baseados em IA que foram prometidos
  • Atrasar investimentos de centenas de bilhões de dólares em infraestrutura digital
  • Elevar a pressão inflacionária, com os custos sendo repassados em cascata

E aqui está o ponto que mais me preocupa: toda essa escassez pode estar nos mostrando que estamos construindo sobre fundações frágeis. Não apenas na questão dos chips, mas na própria concepção de como a IA se relaciona com o mundo físico.

A Paradoxo da Riqueza: Bilionários de IA em um Mundo Sem Chips

Voltemos à Indonésia por um momento. Três novos bilionários surgiram porque entenderam cedo que IA precisa de lugar físico. Data centers não são abstrações na nuvem — são prédios enormes, com sistemas de refrigeração industrial, conexões de fibra ótica e consumo energético equivalente a cidades pequenas.

Esses empresários enriqueceram porque ofereceram o tijolo e o cabo que sustentam a nuvem. E a ironia não poderia ser maior: enquanto eles prosperam construindo a infraestrutura, faltam os componentes que tornam essa infraestrutura útil.

É como construir um estádio de futebol de última geração e descobrir que não há bolas suficientes no mundo para as partidas.

IA e Bolhas: Será Que Estamos Vendo os Primeiros Sinais?

A crise de chips levanta uma questão incômoda que tenho explorado em textos anteriores: existe uma bolha na infraestrutura de IA?

Chey Tae-won, presidente do grupo SK, expressou preocupação com a capacidade de atender aos pedidos, afirmando que a falta de suprimentos pode inviabilizar a operação de algumas empresas. Não são palavras de alguém otimista com o mercado.

A escassez deve atrasar futuros projetos de data centers, pois fabricantes estão receosos de superdimensionar a capacidade sem garantia de componentes. Isso cria um ciclo vicioso: menos capacidade construída, mais pressão sobre o que existe, preços ainda mais altos, menos viabilidade econômica para novos projetos.

No meu trabalho de mentoring com executivos e empresas, sempre reforço: crescimento sustentável não é sobre velocidade, é sobre coerência entre todas as partes do sistema. Se uma engrenagem não acompanha, todo o mecanismo trava.

Outras Vozes da Semana: Universidades, Agricultura e o Uso Cotidiano

Enquanto a guerra dos chips acontece nos bastidores, outras histórias das últimas 24 horas mostram a IA sendo integrada — ou tentando ser integrada — em contextos completamente diferentes.

Universidades Brasileiras Estabelecem Diretrizes Rígidas

THE State reportou que universidades brasileiras estão estabelecendo diretrizes rigorosas para o uso de IA, incluindo a cobrança de softwares antiplágio e, em casos extremos, a possibilidade de cassação de diplomas.

A maior preocupação reside na dificuldade de distinguir o trabalho autêntico do gerado por IA. Isso gera um problema sério: estudantes honestos precisam provar que não estão usando IA, invertendo o ônus da prova.

Enquanto isso, a USP planeja criar um núcleo de transformação digital e uma disciplina de IA para todos os cursos. É o reconhecimento de que não dá para fingir que a tecnologia não existe — mas também não dá para abraçá-la sem critérios.

IA e Drones No Cerrado: Tecnologia Para Preservação

Uma aplicação mais inspiradora veio do Brazilian Post Office, que mostrou pesquisadores do DF desenvolvendo uma plataforma de código aberto que usa IA para identificar automaticamente plantas invasoras no Cerrado.

O sistema utiliza drones com sensores de alta resolução e Deep Learning para reconhecer padrões visuais, alcançando 96% de precisão na identificação de plantas daninhas como o Caruru-Palmeri, uma praga resistente a todos os herbicidas.

É um exemplo perfeito de como IA pode ser aplicada para solucionar problemas reais e urgentes, com impacto ambiental e econômico direto. A tecnologia será entregue à Seagri, ao Ministério da Agricultura e a cooperativas, democratizando o acesso.

Jornalistas Usam IA Mas a Veem Como Ameaça

Um estudo da Universidade de Oxford, reportado pelo Poder360, trouxe dados reveladores: 62% dos jornalistas consideram a IA uma ameaça ao jornalismo, enquanto apenas 15% a veem como oportunidade.

Mesmo assim, 56% usam IA profissionalmente semanalmente, incluindo 27% que a usam diariamente. É a materialização do paradoxo: sabemos que a tecnologia pode ser problemática, mas não conseguimos trabalhar sem ela.

Os níveis gerais de preocupação ética são altíssimos, especialmente sobre o impacto na confiança pública, precisão e originalidade. E apenas 32% dos jornalistas relatam que suas organizações oferecem treinamento em IA.

IA “Alucinada” Cria Citações Falsas e Gera Crise em Bibliotecas

Talvez a história mais perturbadora tenha vindo do Meio Bit: IAs estão criando citações a artigos científicos, fontes acadêmicas e livros que não existem.

Usuários, ao não encontrarem as fontes, passaram a acusar bibliotecas e institutos de ocultarem informação, como se tivessem descoberto uma conspiração. Sarah Falls, da Biblioteca da Virgínia, disse que 15% dos e-mails recebidos questionando fontes imprecisas são de citações errôneas geradas por chatbots.

O problema é estrutural: chatbots foram criados para prover informação e não consideram a ideia de que não há nada para informar. O algoritmo não aceita silêncio como resposta, o que o leva à tendência de alucinar.

Dan Houser, cofundador da Rockstar Games, previu que a IA irá se autodevorar, escalando para algoritmos vomitando dados alucinados ad aeternum, comparando a situação à síndrome da vaca louca.

O Que Tudo Isso Nos Diz Sobre Este Momento?

Quando olhamos para as últimas 24 horas — bilionários da IA, crise de chips, universidades estabelecendo regras, agricultores usando drones, jornalistas divididos, bibliotecárias combatendo fake citations — vemos não uma narrativa coerente, mas múltiplas tensões acontecendo simultaneamente.

E talvez essa seja a melhor forma de entender onde estamos: num momento de tensão máxima entre promessa e realidade.

A promessa é a da riqueza instantânea, da produtividade multiplicada, da solução automatizada para problemas complexos. A realidade é a da escassez física de componentes, da necessidade de governança rigorosa, da dificuldade em separar o útil do nocivo.

No meu trabalho com startups e empresas, sempre digo que os melhores empreendedores não são os que ignoram contradições — são os que navegam por elas com clareza. Eles entendem que crescimento real acontece quando você consegue equilibrar a ambição com a capacidade de execução.

Três Lições Que Tiro Deste Momento

1. Infraestrutura é o novo gargalo estratégico. Não adianta ter o melhor algoritmo do mundo se você não consegue processá-lo em escala. A crise de chips nos lembra que IA não flutua no éter — ela depende de silício, energia e refrigeração.

2. Regulação não é entrave, é maturidade. As universidades estabelecendo diretrizes rigorosas não estão atrasando a inovação — estão garantindo que a inovação seja sustentável e ética. Empresas e governos que entendem isso sairão na frente.

3. A IA é tão boa quanto nossa capacidade de julgamento. As alucinações dos chatbots, o medo dos jornalistas, a necessidade de 96% de precisão no Cerrado — tudo aponta para o mesmo fato: IA amplifica, mas não substitui o discernimento humano.

E o Brasil Nisso Tudo?

O Brasil aparece nessas histórias de formas interessantes. Temos pesquisadores desenvolvendo soluções para o Cerrado com código aberto. Temos universidades criando diretrizes antes que os problemas se tornem incontroláveis. Temos um ecossistema discutindo ética enquanto outros países avançam sem freios.

Isso pode parecer lentidão, mas eu vejo como oportunidade de fazer diferente. Podemos aprender com os erros dos que foram primeiro. Podemos construir infraestrutura pensada para o longo prazo, não para o hype de curto prazo.

Mas isso exige escolhas. Exige investimento não apenas em algoritmos, mas em chips, energia, governança, treinamento e discernimento coletivo. Exige entender que a corrida da IA não é uma sprint — é uma maratona com múltiplos terrenos.

O Que Fazer Com Tudo Isso?

Se você é executivo, empreendedor ou atua em inovação, estas 24 horas nos deixam avisos claros:

  • Não subestime as restrições físicas. Planeje sua infraestrutura de IA considerando não apenas software, mas disponibilidade e custo de hardware.
  • Invista em governança desde o início. Diretrizes claras sobre uso de IA não são burocracias — são proteções contra riscos legais, éticos e reputacionais.
  • Desenvolva discernimento junto com tecnologia. Treine suas equipes não apenas para usar IA, mas para saber quando não usar, quando desconfiar, quando validar.
  • Olhe para aplicações de impacto real. A história dos drones no Cerrado nos lembra que as melhores inovações resolvem problemas concretos, não apenas geram hype.

No meu mentoring, ajudo executivos e empresas a navegarem exatamente essas tensões: como integrar IA de forma estratégica, sustentável e geradora de valor real — não apenas de entusiasmo passageiro. É sobre entender que a melhor tecnologia não é a mais avançada, mas a que você consegue implementar, governar e escalar.

Se há uma conclusão dessas 24 horas, é que estamos em um momento de maturidade forçada. A fase do “IA faz tudo” está cedendo lugar à fase do “IA faz o que conseguimos sustentar”.

E quem entender isso primeiro — sejam países, empresas ou indivíduos — terá uma vantagem competitiva enorme sobre quem ainda está apostando apenas na velocidade.

Porque no fim, riqueza e prosperidade não vêm de correr mais rápido. Vêm de correr na direção certa, com os recursos necessários, e com clareza sobre o destino.


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