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Brasil Ocupa 10ª Posição Mundial em IA Educacional Enquanto Piauí Ganha Prêmio da UNESCO — Por Que Esta Liderança Contrasta com Desafios Estruturais

outubro 14, 2025 | by Matos AI

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O Brasil acaba de protagonizar um movimento fascinante: enquanto ocupamos a 10ª posição mundial no uso de inteligência artificial na educação, com 56% dos professores utilizando a tecnologia — bem acima da média de 36% dos países da OCDE — também ganhamos reconhecimento internacional com o projeto pioneiro do Piauí sendo premiado pela UNESCO.

Não é coincidência. Este momento revela algo profundo sobre como estamos navegando a revolução da IA na educação: com pragmatismo, necessidade e, paradoxalmente, pouco apoio estrutural.

A Vanguarda Brasileira em Números

Os dados da pesquisa Talis 2024 da OCDE pintam um cenário surpreendente. Entre os líderes globais em uso educacional de IA, encontramos:


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  • Emirados Árabes Unidos e Cingapura: 75% dos professores
  • Brasil: 56% dos professores (10ª posição)
  • Coreia do Sul: 43%
  • Dinamarca: 36%
  • França: apenas 14%

Mas aqui reside o contraste mais revelador: 64% dos professores brasileiros afirmam não ter habilidades pedagógicas adequadas para usar IA, e 60% dizem que suas escolas não possuem infraestrutura adequada. É uma liderança construída na base da necessidade e do autodidatismo.

O Caso Piauí: Quando a Visão Encontra a Execução

Enquanto isso acontecia, o Piauí fazia história. O estado se tornou o primeiro território das Américas a incluir inteligência artificial como disciplina obrigatória nas escolas públicas, do 9º ano ao 3º ano do ensino médio.

O projeto beneficia mais de 90 mil alunos em 540 escolas e já capacitou mais de 680 professores. Não é apenas sobre ensinar conceitos de IA — é sobre formar pensamento crítico, ética digital e preparar estudantes para um futuro onde a tecnologia será onipresente.

Amanda Santos, professora em Guaribas, zona rural do Piauí, captura perfeitamente a essência: “A preocupação é garantir que os alunos não sejam apenas consumidores de tecnologia, mas que entendam seu funcionamento.”

O Modelo que Está se Espalhando

O reconhecimento da UNESCO não veio por acaso. O projeto piauiense combina atividades digitais e presenciais, facilitando o acesso mesmo em ambientes com poucos recursos. Sete estados brasileiros já enviaram equipes ao Piauí para replicar o modelo.

Isso me lembra de conversas que tenho constantemente em meu mentoring: a inovação não precisa ser complexa, precisa ser contextualizada.

O Paradoxo da Liderança Improvisada

O que mais me chama atenção não é apenas nossa posição no ranking, mas como chegamos lá. Segundo a pesquisa, o uso da IA pelos professores brasileiros acontece “por necessidade prática e improvisação pedagógica, sem planejamento institucional adequado”.

Os números revelam esta realidade:

  • 80% usam IA no planejamento de aulas para economizar tempo
  • 62,6% para aprender mais sobre temas ou criar resumos
  • 64,2% aplicam na personalização do ensino
  • 53,7% no apoio a estudantes com necessidades especiais

É uma liderança construída na resiliência — característica que sempre admirei no ecossistema brasileiro de inovação. Nossos professores estão fazendo o que sempre fizemos: inovar com os recursos que temos, não com os que gostaríamos de ter.

O Momento Global de Investimentos

Enquanto o Brasil constrói essa liderança educacional de forma orgânica, o mundo está investindo pesado. O Google anunciou R$ 82 bilhões para construir o maior centro de IA fora dos EUA na Índia. A Meta expandiu sua ferramenta de dublagem para português, reconhecendo nosso mercado.

Estes movimentos confirmam algo que tenho observado: o Brasil está no radar global da IA, não apenas como mercado, mas como fonte de talentos e casos de uso únicos.

Os Desafios que Definem o Futuro

Mas seria ingênuo ignorar os obstáculos. O excelente artigo da Folha sobre os impactos macroeconômicos da IA no Brasil até 2030 traz uma análise realista: enquanto países desenvolvidos podem acumular ganhos de 3,2% no PIB, o Brasil chegaria a 0,6%.

Os fatores limitantes são conhecidos:

  • Amplo contingente de trabalhadores informais
  • Sistemas legados fragmentados nas pequenas empresas
  • Formação insuficiente em exatas
  • Baixa poupança interna para grandes investimentos

Mas há um lado positivo nesta análise: a disponibilização de modelos open source pode acelerar nossa adoção de 55% para cerca de 70% até 2030, colocando o Brasil no patamar dos países mais desenvolvidos.

O Fator Humano na Era da IA

Uma das discussões mais interessantes que emerge das notícias de hoje é sobre as habilidades que não podem ser substituídas pela IA. Ryan Roslansky, CEO do LinkedIn, foi direto: o futuro pertence aos adaptáveis, não aos que têm os diplomas mais sofisticados.

As quatro competências essenciais que ele identifica são:

  • Adaptabilidade
  • Visão de futuro
  • Vontade de aprender
  • Abertura para novas ferramentas

Isso ressoa com algo que sempre defendo: a IA não vai substituir humanos, mas humanos que usam IA vão substituir humanos que não usam. Os dados confirmam: 71% dos líderes empresariais preferem contratar alguém com habilidades em IA, mesmo que menos experiente.

A Consulta Pública como Sinal de Maturidade

Um movimento que passou quase despercebido, mas que considero fundamental: o governo federal abriu consulta pública sobre o uso de IA na educação. Esta iniciativa busca construir “um referencial para o desenvolvimento e uso responsáveis da IA no setor educacional”.

Participar desta consulta é participar da construção do futuro. Os temas incluem proteção de dados, combate a vieses, direitos autorais, transparência, formação docente e infraestrutura.

É exatamente o tipo de movimento que mostra maturidade institucional — algo que complementa perfeitamente nossa liderança prática no uso educacional da IA.

O Trabalho em Transformação

A discussão no Senado sobre o impacto da IA no trabalho trouxe dados importantes: cerca de 40% dos empregos globalmente serão impactados pela IA, segundo o FMI.

Mas há sinais positivos. Paula Montagner, do Ministério do Trabalho, observa que a maioria dos profissionais de comunicação já atua como empresários individuais — uma tendência que pode crescer com a IA, criando novas oportunidades de trabalho autônomo.

Hugo Valadares Siqueira, do Ministério da Ciência e Tecnologia, foi além: “A IA pode contribuir para reduzir a jornada de trabalho sem eliminar empregos, beneficiando a qualidade de vida dos trabalhadores.”

Onde Estamos e Para Onde Vamos

O quadro que emerge das notícias de hoje é de um Brasil que está construindo liderança na prática, mesmo com limitações estruturais. Somos o país que:

  • Ocupa a 10ª posição mundial em uso educacional de IA
  • Tem o primeiro projeto das Américas premiado pela UNESCO
  • Constrói políticas públicas participativas
  • Forma uma nova geração que entende IA como ferramenta, não como ameaça

Mas também somos o país que precisa:

  • Investir em infraestrutura e formação
  • Aproveitar o momentum dos modelos open source
  • Acelerar a adoção empresarial responsável
  • Manter o foco na dimensão humana da tecnologia

O Momento da Ação Consciente

Estamos vivendo um momento único: temos liderança prática, reconhecimento internacional e uma janela de oportunidade com modelos mais democráticos. A questão não é se devemos abraçar a IA — os professores brasileiros já responderam isso. A questão é como fazer essa liderança gerar impacto sustentável.

No meu trabalho com empresas e executivos, vejo constantemente o mesmo padrão do que acontece na educação: quem está experimentando com responsabilidade sai na frente. Quem espera o momento “perfeito” fica para trás.

O exemplo do Piauí é especialmente poderoso porque mostra que inovação educacional pode acontecer independente de recursos abundantes. É sobre visão, planejamento e execução consistente.

A consulta pública do governo federal sobre IA na educação está aberta até 29 de outubro. É nossa chance de influenciar as diretrizes que definirão como o Brasil usará IA na educação nos próximos anos.

Em meu mentoring e consultorias, ajudo executivos e empresas a aproveitarem exatamente esses momentos de transição — quando liderança prática encontra oportunidade estrutural. O Brasil tem todos os ingredientes para se consolidar como referência global em IA educacional responsável.

A pergunta que fica é: como você e sua organização vão participar desta construção?


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