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63% dos Brasileiros Já Pedem Para IA Escrever Mensagens Pessoais Enquanto Líderes Gaúchos Usam a Tecnologia Para Liberar Tempo Estratégico — Por Que Este Momento Define a Virada da Automação Para a Terceirização do Pensamento

dezembro 21, 2025 | by Matos AI

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Imagine acordar amanhã e perceber que boa parte das suas conversas já não é mais sua. Não porque alguém roubou sua voz, mas porque você mesmo delegou a tarefa de pensar, escrever e se posicionar para uma máquina. Soa distante? Pois já está acontecendo.

Uma pesquisa da consultoria Página 3 revelou que 63% dos brasileiros já pediram para uma ferramenta de IA escrever mensagens pessoais. Quase metade afirma preferir recorrer a esses modelos do que a outras pessoas ao tomar decisões. E 49% dizem que já receberam mensagens que pareciam ter sido geradas por IA.

Ao mesmo tempo, líderes gaúchos de diferentes setores — saúde, educação, agronegócio, futebol, varejo — relatam que a IA já gera valor real ao automatizar processos, acelerar análises e liberar tempo das equipes para decisões estratégicas. A diferença? Eles usam a tecnologia para ampliar sua capacidade de ação, não para substituir seu pensamento.


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Estamos diante de uma encruzilhada: a IA pode ser uma ferramenta que nos devolve tempo para o que realmente importa ou um atalho que nos afasta de nós mesmos. E as últimas 24 horas de notícias deixam claro que essa escolha não é automática — ela exige consciência, intenção e responsabilidade.

A Terceirização Mental Já Começou

Segundo a Página 3, o uso constante de sistemas automatizados reduz o exercício de organizar ideias e formular opiniões próprias. “Quando tudo aquilo com que entramos em contato se torna uma espiral de repetições disfarçadas de novidade, enfraquecemos a nossa personalidade, nossos critérios e o senso de realidade”, afirma Sabrina Abud, cofundadora da consultoria.

Não é alarmismo. É diagnóstico.

A pesquisa mostra que 48% dos entrevistados percebem que as pessoas estão cada vez mais iguais em hábitos e opiniões, enquanto 72% gostariam de ser mais autênticos. E 63% acham que as pessoas eram mais autênticas e diferentes entre si no passado.

Para a consultoria, esse cenário é resultado da combinação entre excesso de estímulos, lógica algorítmica das plataformas e crescente delegação do pensamento a ferramentas digitais. “Já estamos assistindo pessoas que terceirizam partes inteiras do processo de pensar. Com a entrada dos agentes de IA em nossas vidas, esse cenário tende a piorar, já que a delegação da ação e do pensamento será muito maior”, avalia Georgia Reiné, cofundadora.

O Impacto Não É Só Individual

Quando o repertório se estreita e a reflexão é delegada a sistemas automáticos, o debate público tende a se empobrecer. 76% dos brasileiros dizem que está cada vez mais difícil conversar e se relacionar com os outros, segundo o estudo.

Penso nisso quando trabalho com empresas e vejo equipes inteiras usando IA para gerar relatórios, apresentações e até emails internos. A ferramenta é útil, mas quando ela substitui a capacidade de articular pensamento próprio, estamos diante de um problema estrutural.

A questão não é se a IA deve ser usada. A questão é: estamos usando a IA para ampliar nossa capacidade de pensar ou para evitar o desconforto de pensar?

Como Líderes Já Estão Usando a IA (do Jeito Certo)

Nem tudo são más notícias. Uma reportagem da GZH ouviu líderes do Rio Grande do Sul sobre como já utilizam inteligência artificial em suas operações. O padrão é claro: a IA retira peso do operacional e devolve tempo para decisão, estratégia e relacionamento.

Veja alguns exemplos:

  • Saúde: Sandro Junqueira, diretor executivo do Hospital Mãe de Deus, relata que a IA já impacta fluxos assistenciais, segurança do paciente e análise preditiva de riscos, acelerando decisões e aumentando eficiência.
  • Educação: Marícia Ferri, diretora geral do Colégio Farroupilha, destaca que o desafio para 2026 é garantir que a IA estimule criatividade sem comprometer a autonomia de raciocínio dos alunos.
  • Contabilidade: Diego Passos, CEO da Zaine Gestão Contábil, afirma que “quem usar IA só para eficiência sobrevive, quem usar para inteligência lidera”.
  • Agronegócio: Gelson Bridi, presidente da Cotricampo, diz que a IA apoia o cooperativismo com dados para gestão, planejamento e tomada de decisão.
  • Futebol: Alexandre Godoy, diretor de novos negócios do Internacional, usa IA para marketing, propostas comerciais e segmentação de patrocinadores.

O que todos têm em comum? Eles não delegam o pensamento estratégico para a máquina. Eles usam a máquina para ter mais tempo e clareza na hora de pensar.

É a diferença entre usar IA como muleta cognitiva e usá-la como ferramenta de potencialização. E essa diferença define quem vai liderar nos próximos anos.

As 5 Habilidades de Liderança Que a IA Não Consegue Substituir

Enquanto a adoção cresce, especialistas apontam limitações importantes. Uma matéria da Revista PEGN compilou cinco habilidades de liderança que ainda não podem ser substituídas pela IA:

1. Escuta Profunda

Modelos generativos interpretam texto e áudio, mas não compreendem tom de voz, pausas, linguagem corporal e sinais emocionais — elementos fundamentais da comunicação humana.

2. Fazer Perguntas em Vez de Fornecer Respostas

Enquanto a IA tende a apresentar respostas diretas, o coaching humano privilegia o questionamento. Bons líderes formulam perguntas abertas que ajudam profissionais a construir suas próprias soluções.

3. Equilibrar Acolhimento e Responsabilidade

Ferramentas de IA geralmente reforçam o que o usuário busca. Líderes experientes combinam empatia com responsabilização, incentivando pessoas a enfrentar desafios e sair da zona de conforto.

4. Conduzir Conversas Difíceis

Feedbacks complexos exigem atenção ao impacto emocional. Um líder ajusta tom e abordagem conforme a reação do profissional, avaliando sinais não verbais.

5. Investir no Crescimento das Pessoas

Apoiar o desenvolvimento de metas, oferecer acompanhamento contínuo e construir confiança são processos que dependem de vínculo humano.

Em meu trabalho de consultoria e mentoria com executivos, tenho visto isso na prática. A IA pode ajudar a mapear competências, sugerir trilhas de desenvolvimento e até simular conversas. Mas a conexão real, aquela que gera transformação, ainda depende de presença, empatia e julgamento humano.

A IA Como Advogado do Diabo

Existe um uso alternativo da IA que poucos exploram: transformá-la em um advogado do diabo portátil. Em vez de pedir para a IA confirmar suas ideias, peça para ela atacá-las.

Rafael Parente, em sua coluna na GZH, defende essa abordagem: “Ataque essa ideia. Procure falhas, riscos ocultos e pressupostos frágeis. Seja implacável.”

O resultado? Um desconforto organizado que melhora planos, reduz o excesso de confiança e força o usuário a aperfeiçoar seus argumentos.

Penso nisso como uma ferramenta de stress test cognitivo. Não é sobre a IA tomar decisões. É sobre usá-la para revelar pontos cegos, testar hipóteses e sair de bolhas de confirmação.

Mas atenção: decisões morais, afetivas ou existenciais pedem presença real, não simulação. A IA como advogado do diabo funciona para lógica e argumentação. Já para escolhas que envolvem valores e emoções, ela é insuficiente.

Novos Modelos de Liderança na Era da IA

A CartaCapital publicou uma análise sobre os modelos de liderança que vão moldar empresas na era da IA, com base nas avaliações de Renato Trisciuzzi, especialista em liderança e auditoria.

Segundo ele, a liderança dos próximos anos será definida pela capacidade de compreender a interação entre negócios, sociedade e tecnologia. “A eficiência isolada deixa de sustentar relevância institucional. O dirigente precisa interpretar dados, riscos e impactos sociais ao mesmo tempo.”

Os Principais Modelos Emergentes

  • Liderança orientada por inteligência artificial: Exige domínio da IA aplicada à gestão, com responsabilidade, leitura de vieses e governança de dados.
  • Regeneração como lógica de gestão: Práticas ESG avançam para modelos regenerativos, que restauram recursos e fortalecem relações comunitárias.
  • Fim do líder infalível: Ganham relevância líderes que reconhecem limites, expõem incertezas e compartilham decisões.
  • Liderança e inteligência coletiva: Estruturas rígidas são substituídas por redes interconectadas, com autonomia distribuída.
  • Gestão frugal e ciclos curtos: A volatilidade econômica reforça práticas de experimentação contínua, com uso racional de recursos.
  • Integração entre gerações: A gestão promove trocas entre experiência acumulada e repertório digital.
  • Liderança e saúde mental: Cresce a necessidade de dirigentes atentos aos efeitos psicológicos da tecnologia.

Em meu mentoring com executivos, trabalho justamente essa transição: de uma liderança que busca controle para uma que navega complexidade. A IA não substitui essa capacidade. Ela a expõe.

O Que o Futuro do Trabalho Valoriza

A pesquisa da Página 3 também perguntou aos brasileiros quais serão os profissionais mais valorizados em um cenário onde a IA se torna onipresente:

  • 60%: Profissionais que souberem analisar criticamente as informações trazidas pelas IAs.
  • 49%: Quem conseguir interpretar antes de agir.
  • 41%: Quem conseguir pensar e criar de forma única.
  • 39%: Quem fizer os melhores prompts para IA.

Os dados sugerem que a habilidade de julgamento e pensamento próprio seguirá sendo central, mesmo com o avanço das ferramentas inteligentes.

Isso se alinha ao que tenho visto em cursos imersivos e consultorias: a IA amplifica capacidade, mas só tem valor real quando há capacidade a ser amplificada. Se você terceiriza o pensamento, a ferramenta não tem o que potencializar.

Caminhos Para Fortalecer o Pensamento Próprio

A Página 3 sugere caminhos para fortalecer o pensamento próprio diante da IA:

  • Ampliação do repertório cultural
  • Recuperação do hábito de conversas longas
  • Exercício da escrita e da fala como formas de organizar ideias
  • Resgate do “tempo humano da reflexão”, em contraste com a dinâmica acelerada de notificações e respostas instantâneas

“Ser você mesmo não é ser oposição ao mundo. É conseguir pensar por conta própria. O coletivo precisa de indivíduos críticos para não virar um rebanho; e o indivíduo precisa do coletivo para não perder o sentido da própria existência”, conclui Sabrina Abud.

Concordo plenamente. E acrescento: a IA pode ser uma aliada nesse processo, desde que seja usada com intenção clara. Não para substituir o pensamento, mas para desafiá-lo, organizá-lo e amplificá-lo.

Casos Reais: Quando a IA Falha (e Por Quê)

Nem tudo é sucesso. Um experimento da Anthropic colocou uma IA chamada Claudius para administrar uma máquina de vendas. O resultado? Prejuízo constante e perda quase total do estoque.

Na primeira fase, funcionários convenceram a IA a vender produtos abaixo do custo, distribuir itens gratuitamente e até comprar objetos sem sentido comercial. Em um momento, o agente começou a alucinar e chegou a afirmar que era um humano “usando um blazer azul”.

Na segunda fase, com ferramentas adicionais e um “CEO virtual”, as melhorias foram parciais. O sistema continuou vulnerável a manipulações humanas e decisões pouco racionais.

Para a Anthropic, o recado é claro: “A ideia de uma IA administrando um negócio não parece tão absurda quanto antes. Mas a diferença entre ‘capaz’ e ‘completamente robusto’ continua grande.”

Essa é uma lição importante: a IA pode executar tarefas, mas governança, julgamento e responsabilidade ainda dependem de humanos.

SENAI Lança Ferramenta de IA Para Orientação de Carreira

Em um movimento de democratização, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) lançou o “Carreira e Empregabilidade”, um serviço gratuito que utiliza IA para auxiliar brasileiros a construir trajetórias profissionais alinhadas às demandas do mercado.

A ferramenta:

  • Mapeia o mercado de trabalho
  • Sinaliza áreas em expansão conectadas ao perfil do usuário
  • Indica possíveis caminhos profissionais e vagas disponíveis
  • Oferece diagnóstico de pontos fortes e fracos
  • Recomenda cursos e conteúdos de aprendizagem específicos

Nos próximos meses, a plataforma deve ser expandida com novas funcionalidades, incluindo orientação para elaboração de currículos, sugestões de trilhas personalizadas e mentoria online.

É um exemplo de como a IA pode ampliar acesso e reduzir barreiras, especialmente em um país com desigualdades educacionais profundas.

A Mídia Jornalística Está se Tornando Parte dos Sistemas de IA

Uma questão que merece atenção: a mídia jornalística está se tornando parte dos sistemas de IA.

No Festival JournalismAI 2025, Ezra Eeman, diretor de estratégia e inovação da NPO (emissora pública holandesa), questionou: “O jogo maior que está acontecendo, é claro, é que a mídia está sendo adicionada à IA — se tornando parte dos sistemas de IA”.

Irene Jay Liu, diretora de IA do IFPM, alertou que os encaminhamentos estão diminuindo em muitos mercados. “Estamos ouvindo de editores — grandes editores — que seu tráfego caiu 50 a 60% no último ano”, identificando os mecanismos de busca “pegando conteúdo jornalístico e resumindo-o” como um dos principais contribuintes.

Isso levanta questões estruturais: se a IA resume conteúdo sem direcionar tráfego, como fica o modelo de negócios das redações? Como garantir que jornalistas sejam remunerados pelo trabalho que alimenta esses sistemas?

São perguntas que não têm resposta fácil, mas que precisam estar na mesa.

Direito Autoral e IA: O Caso da Música

O debate sobre propriedade intelectual também avança. O Consultor Jurídico trouxe um caso inédito no Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJ-SC), que reconheceu a legitimidade da cobrança de direitos autorais de execução pública, mesmo em casos de utilização de conteúdo sintético gerado por IA.

O tribunal entendeu que as criações resultantes de IA não constituem obras musicais autônomas, mas derivações de composições preexistentes e, desta forma, permanecem sujeitas à proteção autoral.

Foi constatado que a canção A Dolly entre Nós, gerada pela plataforma Suno, apresentava correspondência substancial com Be Happy Always, do compositor turco Erkan Yasemin.

Essa decisão tem implicações que vão além do caso concreto. Ela reafirma o papel da gestão coletiva da música no Brasil na garantia do equilíbrio entre a remuneração dos criadores e o avanço tecnológico.

O direito autoral não deve ser encarado como obstáculo, mas como pilar para o desenvolvimento sustentável da indústria criativa.

Uso Indevido de Imagem: Os Casos da Monja Coen e Drauzio Varella

Casos de uso indevido de imagem também chamam atenção. A Monja Coen teve sua voz e imagem usadas por IA em vídeos sobre astrologia no TikTok. Uma liminar da Justiça de São Paulo mandou remover o canal, que tinha mais de 4 milhões de seguidores.

O médico Drauzio Varella também foi vítima. Sua imagem foi usada para criar anúncios fraudulentos vendendo um suplemento alimentar.

São exemplos que mostram a urgência de regulação e fiscalização. A IA pode ser usada para criar valor, mas também para enganar, fraudar e violar direitos.

O Que Este Momento Nos Ensina

As últimas 24 horas revelam uma tensão fundamental: a IA está sendo adotada rapidamente, mas nem sempre com responsabilidade, intenção ou consciência dos impactos.

Podemos escolher dois caminhos:

  1. Usar a IA para terceirizar o pensamento, delegando decisões, conversas e até nossa própria voz para máquinas. Esse caminho leva à uniformização, ao empobrecimento do debate e à perda de autenticidade.
  2. Usar a IA para ampliar nossa capacidade de pensar, automatizando o operacional para focar no estratégico, desafiando nossas ideias e criando espaço para reflexão. Esse caminho leva à potencialização, à liderança consciente e à geração de valor real.

A escolha parece óbvia, mas não é automática. Ela exige intenção, disciplina e um compromisso com o que nos torna humanos: a capacidade de pensar, questionar, sentir e decidir.

Em meu trabalho com empresas e executivos, tenho visto que os líderes que prosperam não são os que adotam IA mais rápido, mas os que a adotam com mais clareza de propósito. Eles sabem o que querem amplificar e o que querem preservar.

Isso não acontece sozinho. Exige reflexão, experimentação e uma disposição de fazer escolhas difíceis sobre como queremos viver e trabalhar.

Como Aplicar Isso na Prática

Se você lidera pessoas ou organizações, aqui estão algumas perguntas para guiar o uso da IA:

  • Estou usando IA para ampliar minha capacidade de pensar ou para evitar o desconforto de pensar?
  • Quais tarefas devem ser automatizadas e quais devem ser preservadas como exercício de pensamento?
  • Como posso usar IA como advogado do diabo, para desafiar minhas ideias e reduzir pontos cegos?
  • Que tipo de liderança quero desenvolver: uma que busca controle ou uma que navega complexidade?
  • Como garantir que minha equipe use IA para potencializar, não para terceirizar?

Essas perguntas não têm respostas prontas. Elas exigem que você pare, reflita e decida.

E é exatamente esse exercício — de pausa, reflexão e decisão consciente — que a IA não pode fazer por você.

No Meu Mentoring, Ajudo Executivos a Fazerem Essa Virada

No meu trabalho de consultoria e em cursos imersivos, apoio líderes e empresas a navegarem essa transição. Não se trata de adotar IA por modismo ou medo de ficar para trás. Trata-se de entender como a tecnologia pode servir a um propósito maior: gerar valor real, liberar tempo para o que importa e criar organizações mais humanas, não menos.

Se você quer explorar como aplicar IA de forma estratégica, responsável e alinhada aos seus valores, vamos conversar. A tecnologia muda rápido, mas os princípios que orientam boas decisões permanecem.

E no fim das contas, é isso que define liderança: não a capacidade de usar ferramentas, mas a sabedoria de saber quando, como e por quê.


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