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Europa Emerge como 3ª Força da IA: O Brasil Será Engolido ou Terá seu Lugar?

março 13, 2025 | by Matos AI

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O jogo global da inteligência artificial está mudando rapidamente. A União Europeia, conhecida por seu rigor regulatório, acaba de dar uma guinada surpreendente em sua estratégia para IA, anunciando um investimento massivo de 200 bilhões de euros durante o AI Action Summit realizado na França. Esta movimentação coloca a Europa como a terceira grande potência na corrida da IA, ao lado de EUA e China, e tem implicações profundas para países como o Brasil.

A mudança estratégica europeia e o dilema brasileiro

É particularmente interessante observar esta transformação na abordagem europeia. Por anos, a Europa se posicionou como a grande reguladora da tecnologia global, estabelecendo padrões que frequentemente eram adotados pelo resto do mundo – incluindo o Brasil. Agora, sem abandonar completamente sua vocação regulatória, o bloco entendeu que apenas regular não seria suficiente para ter relevância no cenário tecnológico global.

Segundo reportagem do UOL, essa mudança é vista como uma resposta à preocupação de ficar para trás em relação aos Estados Unidos e à China em termos de inovação tecnológica. Enquanto isso, a situação do Brasil é descrita como preocupante: sem uma big tech própria e extremamente dependente da regulação europeia, o país se vê em risco de ser “engolido” na nova ordem tecnológica global.

Esta análise ressoa fortemente com o que tenho observado em meu trabalho com startups nos últimos anos. O ecossistema brasileiro ainda luta para encontrar seu posicionamento na economia global da IA, oscilando entre ser apenas consumidor de tecnologias importadas ou desenvolver capacidades próprias.

A corrida pela soberania tecnológica

Um movimento que ilustra bem a importância da soberania tecnológica vem da Meta, que está desenvolvendo seus próprios chips de IA para reduzir a dependência da Nvidia. Segundo o Tecnoblog, a empresa de Mark Zuckerberg pretende utilizar esses chips para otimizar o consumo de energia e reduzir custos em sistemas de recomendação do Facebook e Instagram.

E a Meta não está sozinha nessa jornada. A reportagem da Hardware.com.br confirma que a empresa já começou a testar as primeiras amostras desses chips, produzidos em parceria com a TSMC.

Esta tendência de verticalização no desenvolvimento de hardware específico para IA é um movimento estratégico que deveria servir de lição para o Brasil. Países e empresas que controlam sua infraestrutura tecnológica ganham não apenas eficiência, mas independência estratégica.

O Brasil na encruzilhada: regular ou inovar?

Um dos principais dilemas que o Brasil enfrenta é o equilíbrio entre regulação e inovação. A discussão sobre regulamentação da IA na saúde, por exemplo, ilustra perfeitamente esse desafio. De acordo com artigo publicado no Jota, o PL 2338/2023, inspirado na regulação europeia, gerou preocupações sobre a classificação de IA na saúde como de alto risco e a necessidade de estabelecer uma nova autoridade reguladora.

Em minha experiência trabalhando com startups e políticas públicas para inovação, percebi que regulações excessivamente restritivas antes do amadurecimento do mercado frequentemente sufocam o surgimento de soluções inovadoras. O Brasil precisa encontrar seu próprio caminho regulatório, que proteja valores fundamentais sem impedir a inovação e o desenvolvimento de tecnologias nacionais.

A democratização da IA e novas oportunidades

Nem tudo são desafios no horizonte. A boa notícia é que estamos vendo um movimento de democratização das ferramentas de IA, que pode beneficiar empresas brasileiras de todos os portes.

Um exemplo é o WhatsApp, que começou a liberar uma funcionalidade que permite aos usuários criar bots de IA personalizados. Esta novidade, disponível inicialmente na versão beta para iOS, permite que qualquer pessoa ou empresa crie assistentes virtuais sem necessidade de conhecimentos avançados em programação.

Da mesma forma, a palestra de Sandy Carter no SXSW destacou que a IA generativa já pode ser usada sem a necessidade de programar códigos de software, por meio de centenas de agentes de IA. Carter também apontou que a IA vai transformar empregos, mas não necessariamente gerar desemprego massivo – uma perspectiva que compartilho baseada em minha experiência desenvolvendo programas de capacitação para o mercado tecnológico.

Os desafios de propriedade intelectual na era da IA

Outro tema que merece atenção é o impacto da IA nas indústrias criativas. A Sony Music já removeu mais de 75 mil músicas geradas por IA de plataformas de streaming, argumentando que esse conteúdo prejudica comercialmente artistas reais.

De modo semelhante, estrelas da dublagem de games se uniram contra o uso da IA através da iniciativa Pixel Pack, buscando preservar a atuação humana na indústria de jogos.

Estes casos ilustram o delicado equilíbrio que precisamos encontrar entre inovação tecnológica e proteção da criação humana. É um debate que o Brasil precisa enfrentar com maturidade, considerando tanto o potencial transformador da IA quanto a necessidade de proteger nossos criadores e artistas.

O futuro da robótica potencializada por IA

Olhando para tendências de mais longo prazo, o Google apresentou uma versão do Gemini específica para robôs físicos. Esta plataforma visa melhorar a interação entre robôs e humanos, permitindo que os robôs realizem uma variedade de tarefas no cotidiano.

Este desenvolvimento aponta para um futuro onde a IA não estará apenas nos nossos smartphones e computadores, mas incorporada em dispositivos físicos que atuarão no mundo real. As implicações dessa tendência são enormes e abrem oportunidades para startups e empresas brasileiras que conseguirem se posicionar nessa nova fronteira tecnológica.

Caminhos para o Brasil não ser ‘engolido’

Diante desse cenário desafiador, o que podemos fazer para que o Brasil não seja apenas um espectador passivo da revolução da IA? Com base na minha experiência apoiando milhares de startups e trabalhando com políticas públicas de inovação, vejo alguns caminhos possíveis:

  • Investimento estratégico em educação tecnológica: Precisamos formar mais profissionais capacitados em IA, não apenas para consumir, mas para criar tecnologia. Este tem sido um dos focos do meu trabalho nos últimos anos, inclusive na formação de profissionais de tecnologia.
  • Políticas públicas equilibradas: O Brasil precisa de regulações que protejam valores fundamentais sem impedir a inovação. Minha experiência liderando programas como o Start-Up Brasil mostrou que é possível ter políticas públicas que incentivem a inovação de forma responsável.
  • Construção de ecossistemas robustos: O desenvolvimento de IA não acontece no vácuo. Precisamos fortalecer a conexão entre universidades, empresas, investidores e governo. Este é um trabalho que tenho feito ao longo de minha carreira, ajudando a construir pontes entre esses diferentes atores.
  • Foco em problemas brasileiros: Devemos incentivar o desenvolvimento de soluções de IA para desafios específicos do Brasil, criando tecnologias que façam sentido para nossa realidade.

Um chamado à ação

O momento exige uma postura mais proativa do Brasil em relação à IA. Não podemos nos dar ao luxo de esperar que outros países definam o caminho. Precisamos construir nossa própria estratégia, que combine regulação inteligente com incentivos à inovação.

Nas minhas mentorias para startups e empresas, tenho reforçado a importância de olhar para a IA não apenas como uma ferramenta operacional, mas como um elemento estratégico. As empresas brasileiras, independentemente do seu tamanho, precisam entender como a IA pode transformar seus negócios e se preparar para essa nova realidade.

Da mesma forma, nossos formuladores de políticas precisam ter uma visão mais ampla do que está em jogo. Não se trata apenas de regulamentar uma tecnologia, mas de posicionar o país em uma nova ordem econômica global.

A Europa entendeu isso e mudou sua abordagem. O Brasil também pode fazer o mesmo, encontrando um caminho próprio que reflita nossas necessidades e potencialidades.

No meu trabalho de consultoria e mentoria, tenho ajudado empresas e organizações a navegar por esse cenário complexo, desenvolvendo estratégias que aproveitam as oportunidades da IA enquanto mitigam seus riscos. Se você está buscando entender melhor como posicionar sua empresa ou organização nessa nova era, entre em contato para discutirmos possibilidades de colaboração.

O futuro da IA no Brasil depende das escolhas que fizermos hoje. Vamos trabalhar juntos para garantir que não sejamos apenas espectadores, mas protagonistas dessa revolução tecnológica.

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