Blog Felipe Matos

Apenas 10% das Empresas Usam IA de Forma Significativa — Por Que a Adoção Corporativa Decepciona Enquanto Itaipu Planeja Expansão

julho 22, 2025 | by Matos AI

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A inteligência artificial está em todo lugar — pelo menos nos discursos corporativos. No primeiro trimestre de 2025, 44% das empresas do S&P 500 mencionaram IA em suas teleconferências financeiras. Jamie Dimon, CEO do JPMorgan Chase, afirmou que seu banco tem 450 casos de uso para a tecnologia. Mas aqui está a realidade que ninguém quer admitir: segundo o Departamento do Censo dos EUA, apenas 10% das empresas usam IA de maneira significativa.

Essa discrepância entre hype e realidade não é coincidência. É sintoma de algo muito maior acontecendo nas estruturas corporativas — e que tem implicações diretas para o futuro do trabalho e dos negócios no Brasil.

A Tirania do Ineficiente: Por Que Gerentes Intermediários Sabotam a Inovação

Em minha experiência acelerando startups, sempre observei que as melhores inovações enfrentam resistência justamente onde menos se espera: no meio da hierarquia. O banco UBS identificou que a adoção corporativa de IA decepcionou, e as barreiras vão muito além de questões técnicas.


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O fenômeno que os especialistas chamam de “tirania do ineficiente” explica muito: estruturas organizacionais e pessoas atrasam avanços que economizariam trabalho. Por quê? Porque gerentes intermediários, que detêm autoridade real nas empresas, podem vetar ou atrasar mudanças promovidas pela alta diretoria.

Steve Hsu, especialista citado na pesquisa, destaca que esses gerentes temem que a automação possa ameaçar seus postos, adotando comportamento defensivo. É uma reação humana compreensível, mas que cria um paradoxo: as empresas que mais precisam se transformar são as que mais resistem à mudança.

O Crescimento das Áreas de Resistência

Os números são reveladores: a presença de advogados internos cresceu 27% em uma década, enquanto áreas como recursos humanos expandiram 40% nos EUA. Essas áreas, preocupadas com conformidade e regulamentação, naturalmente criam barreiras à adoção de novas tecnologias.

Isso me lembra de uma conversa que tive recentemente com um amigo advogado, curiosamente similar ao relato do colunista Rafael Martins no GZH. A classe jurídica está passando do medo para a curiosidade, mas ainda há muito caminho pela frente.

Enquanto Isso, a IA Consome Infraestrutura Real

Paradoxalmente, enquanto empresas hesitam em adotar IA, a demanda energética da tecnologia está forçando expansões de infraestrutura. A hidrelétrica binacional Itaipu estuda a construção de duas turbinas adicionais — um aumento de 10% na capacidade — impulsionado principalmente pelo crescimento de data centers de IA e mineração de criptomoedas no Paraguai.

O diretor-geral Enio Verri considera essa ampliação “inevitável”, e os números justificam: o Paraguai projeta consumir 50% da energia de Itaipu até 2035, comparado aos atuais 31%. É o impacto físico real da economia digital em ação.

Mas essa demanda energética traz questões ambientais importantes. Um estudo publicado na Frontiers in Communication revelou que modelos com capacidade elaborada de raciocínio podem emitir até 50 vezes mais CO2 do que modelos que respondem concisamente.

O Custo Ambiental da Precisão

Aqui está um trade-off fascinante: há uma relação inversa entre precisão e sustentabilidade. Modelos mais precisos tendem a consumir mais energia e emitir mais carbono. Perguntas que envolvem raciocínio complexo geram até seis vezes mais CO2 que perguntas simples.

Isso nos leva a uma reflexão importante: precisamos ser mais conscientes sobre como usamos IA, solicitando respostas mais sucintas e utilizando a tecnologia de forma ponderada.

A IA Como Ferramenta de Desinformação Política

O lado sombrio da democratização da IA generativa apareceu de forma dramática quando Donald Trump publicou um vídeo criado por IA mostrando Barack Obama sendo preso. O vídeo de um minuto e meio mistura imagens reais com cenas geradas por computador, criando uma narrativa completamente falsa.

Esse episódio ilustra como a IA pode ser usada para disseminar desinformação com alto potencial de polarização. A qualidade cada vez maior desses vídeos sintéticos torna difícil distinguir realidade de ficção, especialmente para quem não está familiarizado com as limitações e possibilidades da tecnologia.

Repensando o Futuro: Modelos Descentralizados e Inteligência Emergente

Enquanto lidamos com os desafios atuais, pesquisadores já pensam no próximo passo. Um artigo na Forbes Brasil explora teorias sobre inteligência artificial geral (IAG), propondo um modelo descentralizado inspirado no funcionamento do cérebro humano como múltiplas máquinas interconectadas.

A “Teoria CHAOS 2.0” de Abhishek Singh sugere que a descentralização, por meio de múltiplos agentes interagindo com protocolos locais, pode superar limitações dos sistemas centralizados, gerando inteligência emergente superior.

É um conceito fascinante que ecoa padrões naturais como colônias de formigas e sociedades humanas. Talvez o futuro da IA não seja um “grande cérebro” central, mas uma rede colaborativa distribuída.

O Impacto Real na Advocacia

Voltando à realidade atual, a transformação já está acontecendo em setores específicos. Escritórios como Allen & Overy já usam ferramentas como o Harvey para gerar minutas e auxiliar decisões, enquanto no Brasil sistemas como Linte, Turivius e Juridoc avançam no Judiciário.

Um estudo da Goldman Sachs indica que até 44% das tarefas jurídicas podem ser automatizadas. Mas isso não significa o fim dos advogados — significa uma transformação no valor que eles entregam. O diferencial será a capacidade humana para pensar estrategicamente, argumentar de forma complexa e lidar com nuances sociais e emocionais.

Lições Para Líderes e Empreendedores

O que podemos aprender com esse cenário aparentemente contraditório? Primeiro, que a resistência à mudança é normal e previsível. Segundo, que as empresas que superarem essas barreiras organizacionais terão vantagens competitivas significativas.

Em minha experiência mentorando startups, vejo três estratégias funcionando:

  • Começar pequeno: Implementar IA em processos específicos e de baixo risco
  • Educar as equipes: Reduzir o medo através do conhecimento
  • Medir resultados: Demonstrar valor tangível antes de expandir

As forças de mercado tendem a favorecer a adoção tecnológica, como ocorreu historicamente com o trator e o computador pessoal. Mas empresas que dependem de recuperar grandes investimentos em data centers podem não ter tempo para processos lentos de mudança organizacional.

O Momento de Agir é Agora

A discrepância entre hype e realidade na adoção de IA não é necessariamente ruim. Ela representa uma oportunidade para empresas e empreendedores que conseguirem navegar as barreiras organizacionais e técnicas de forma inteligente.

Enquanto 90% das empresas ainda hesitam, os primeiros 10% já estão colhendo os benefícios reais da tecnologia. A questão não é se a IA vai transformar os negócios — ela já está fazendo isso. A questão é se sua empresa fará parte da vanguarda ou ficará para trás.

O futuro pertence àqueles que conseguirem equilibrar otimismo tecnológico com realismo organizacional, sustentabilidade ambiental com eficiência operacional, e inovação disruptiva com responsabilidade social.

No meu trabalho de mentoria, ajudo startups e empresas a navegarem exatamente essas complexidades — transformando resistência em oportunidade e hype em resultados concretos. Porque no final, a IA é apenas uma ferramenta. O que importa é como a usamos para criar valor real e construir um futuro melhor.


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