IA como Arena Geopolítica: EUA e China Definem o Futuro da Tecnologia e o Brasil Busca seu Espaço

A Inteligência Artificial Transcende a Tecnologia e se Torna uma Questão de Soberania Nacional

A inteligência artificial deixou de ser apenas uma ferramenta tecnológica para se tornar um campo de disputa geopolítica entre as maiores potências globais. “A gente está numa sociedade que toda discussão de IA passa a ser geopolítica e global”, afirmou Fábio Coelho, presidente do Google no Brasil, durante o evento Think with Google, segundo reportagem do UOL. Esta declaração resume perfeitamente o momento que vivemos.

Acompanho há mais de uma década a evolução da IA e, em minha trajetória apoiando startups e empresas de tecnologia, tenho observado como as decisões de Estados Unidos e China impactam diretamente o desenvolvimento tecnológico no Brasil. O que está em jogo vai muito além de ferramentas que escrevem textos ou geram imagens – estamos falando de influência global, poder econômico e até mesmo soberania nacional.

China Acelera e Intensifica Competição com os EUA

Um exemplo claro dessa corrida tecnológica é o recente anúncio da startup chinesa DeepSeek, que lançou uma grande atualização de seu modelo de linguagem DeepSeek-V3-0324. De acordo com a Folha de S.Paulo, o modelo demonstrou melhorias significativas em áreas como raciocínio e capacidades de codificação, intensificando a competição com líderes americanos como OpenAI e Anthropic.

É interessante notar que a China está investindo pesadamente em infraestrutura e desenvolvimento de IA, oferecendo custos operacionais mais baixos e competindo de forma agressiva com as soluções ocidentais. Este movimento está reconfigurando o tabuleiro global da tecnologia.

Paralelamente, o Google anunciou o Gemini 2.5, considerado seu modelo de IA “mais inteligente” até o momento, como reportado pelo TechTudo. O modelo demonstra capacidade de “pensar” antes de responder e apresenta desempenho superior em áreas complexas. Esta evolução reflete a intensidade da competição no setor.

Impactos no Brasil e o Desafio da Inserção Global

Para o Brasil, esta disputa geopolítica traz desafios e oportunidades. O Google está prestes a inaugurar um segundo centro de engenharia no país, no IPT, reforçando a importância do Brasil neste cenário. No entanto, como tenho alertado em minhas mentorias para startups, precisamos construir capacidade própria para não ficarmos totalmente dependentes das tecnologias estrangeiras.

Um dado preocupante neste sentido foi a recente negação de vistos americanos para dois pesquisadores brasileiros especializados em IA, conforme reportagem da Folha de S.Paulo. Isso reflete o aumento da cautela nas análises de vistos em meio à disputa tecnológica EUA-China, podendo afetar futuras colaborações e intercâmbios acadêmicos envolvendo pesquisadores brasileiros.

Em minhas palestras sobre ecossistemas de inovação, sempre enfatizo a necessidade de estabelecermos pontes de cooperação internacional, mas também de fortalecermos nossa base tecnológica interna. O jogo geopolítico da IA exige estratégias claras dos países que desejam manter sua relevância.

A Transformação do Trabalho e das Profissões

Outro aspecto fundamental desta revolução tecnológica é seu impacto no mundo do trabalho. Bill Gates recentemente listou três profissões que, segundo ele, sobreviverão à era da IA: biociências da saúde, energias alternativas e desenvolvimento de inteligência artificial. De acordo com O Antagonista, Gates enfatizou que a criatividade e inovação necessárias nestas áreas ainda não podem ser replicadas por máquinas.

No Brasil, já observamos uma adoção significativa da IA em diversas profissões. Segundo estudo citado pelo Valor Econômico, 55,1% dos advogados brasileiros já utilizam IA em suas atividades diárias, destacando sua utilidade em tarefas como análise de documentos e criação de peças jurídicas.

O LinkedIn também divulgou dados interessantes, mostrando que as áreas de marketing, vendas, recrutamento e atendimento ao cliente estão implementando IA de maneira significativa, segundo reportagem do Estadão.

Em meu trabalho com startups e empresas, tenho observado que a chave para navegar neste novo cenário é o desenvolvimento do que chamo de habilidades CACACA (Criatividade e Autonomia; Colaboração e Adaptabilidade; Conexão e Afeto). Estas são as competências fundamentais que não serão facilmente substituídas pela IA.

Desafios Éticos e Riscos Emergentes

A evolução acelerada da IA também traz preocupações éticas significativas. Um estudo recente das universidades de Tulane e Chicago revelou que buscas com IA, como Google e ChatGPT, tendem a reforçar crenças pré-existentes ao personalizar respostas com base nos termos usados, conforme reportado por O Globo. Isso pode criar bolhas de informação e aprofundar a polarização, um risco significativo para o debate público.

Outro caso preocupante foi o uso indevido de imagem em um vídeo deepfake para vender um “chá milagroso” contra lipedema. Segundo a BBC News Brasil, Tânia Carvalho foi vítima deste tipo de manipulação, levantando discussões sobre ética e segurança na reprodução de imagens por meio da IA.

Também veio à tona que a Meta utilizou uma base de dados pirata, a LibGen, para treinar seu modelo Llama, de acordo com o Futuro Indicativo. Este caso revela a complexidade e os dilemas legais no desenvolvimento de IA, apontando para a necessidade urgente de discussões sobre o uso responsável de dados.

Em minhas consultorias para empresas que desenvolvem soluções de IA, sempre enfatizo a importância de considerar aspectos éticos desde o início do processo de desenvolvimento. A tecnologia deve servir às pessoas, respeitando direitos e promovendo o bem-estar coletivo.

Oportunidades para Empresas e Startups Brasileiras

Apesar dos desafios, existem oportunidades significativas para empresas e startups brasileiras no campo da IA. Um exemplo é o potencial da tecnologia para fortalecer práticas de ESG (Environmental, Social and Governance). De acordo com especialistas citados pela GZH, a IA pode otimizar operações e melhorar a eficiência, proporcionando benefícios significativos para empresas de todos os portes.

No setor jurídico, a adoção da IA já é realidade. O estudo “Relatório Impacto da IA GENERATIVA NO Direito” indica um crescimento na adoção da IA jurídica e a necessidade de capacitação dos advogados para otimizar o uso da tecnologia.

Em meu trabalho de mentoria com startups, tenho observado um aumento significativo no número de empreendedores desenvolvendo soluções baseadas em IA para diversos setores. O Brasil tem talento e criatividade para se posicionar neste mercado, mas precisamos de mais investimento, formação especializada e políticas públicas adequadas.

Conclusão: O Brasil na Encruzilhada da IA

O Brasil está em uma encruzilhada: podemos ser meros consumidores das tecnologias desenvolvidas por EUA e China ou podemos construir capacidade própria e nos posicionarmos como players relevantes neste cenário. A decisão que tomarmos agora definirá nossa posição nas próximas décadas.

Em minha experiência apoiando o desenvolvimento de milhares de startups, percebi que nossa capacidade de adaptação e inovação é enorme. Temos instituições de pesquisa de classe mundial e empreendedores talentosos. O que precisamos é de um direcionamento estratégico e de um ecossistema que favoreça a inovação em IA.

Como tenho enfatizado em minhas consultorias sobre ecossistemas de inovação, precisamos de uma abordagem coordenada envolvendo governo, academia, empresas e investidores. A IA não é apenas uma tecnologia, mas um novo paradigma que está redefinindo a competitividade global.

No meu trabalho de mentoria para startups, tenho ajudado empreendedores a identificar oportunidades nesse novo cenário e a desenvolver estratégias para integrar a IA em seus modelos de negócio. Se sua empresa ou startup busca navegar neste complexo ambiente tecnológico, considere uma mentoria estratégica para orientar seu posicionamento.

O tabuleiro global da IA está sendo redesenhado diariamente. Cabe a nós decidir se seremos peças ou jogadores.