O Paradoxo da IA no Brasil: CEOs Com Medo, Clima Inteligente e Oportunidades Controversas
março 24, 2025 | by Matos AI

Acompanhar o avanço da IA no Brasil tem sido uma montanha-russa fascinante. Enquanto observo o panorama das últimas 24 horas, percebo que estamos diante de um verdadeiro paradoxo: por um lado, líderes empresariais admitem seus temores; por outro, jovens empreendedores abraçam a tecnologia para criar soluções inovadoras – algumas em territórios controversos.
O medo dos executivos: quando os líderes admitem vulnerabilidade
Um dado que me chamou especial atenção foi divulgado pelo Valor Econômico: um levantamento com 2.500 CEOs revelou que a maioria tem medo da inteligência artificial. Não se trata apenas do receio de perder espaço para concorrência, mas algo muito mais pessoal: o temor de não dominarem o conhecimento suficiente sobre a tecnologia para fazerem as perguntas certas aos seus conselhos.
Este cenário me parece familiar. Em minha trajetória apoiando startups e liderando programas de inovação, frequentemente encontro executivos que se sentem intimidados pela velocidade das transformações tecnológicas. A insegurança diante de novas tecnologias é natural e, paradoxalmente, saudável – demonstra humildade e consciência sobre a complexidade do tema.
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Mesmo com esse receio declarado, 80% dos CEOs planejam adotar ou incorporar mais IA em seus negócios. O problema? Apenas 2% acreditam que suas empresas estão realmente preparadas para isso. Este gap entre desejo e prontidão representa tanto um desafio quanto uma oportunidade para consultores, mentores e especialistas que podem ajudar organizações nessa jornada de transformação.
IA e clima: quando algoritmos ajudam a salvar cidades
Em contraste com os temores corporativos, vemos aplicações extraordinárias da IA emergindo em áreas críticas. Segundo a revista Casa e Jardim, a inteligência artificial está se tornando uma aliada fundamental no enfrentamento das mudanças climáticas em contextos urbanos.
O que me fascina nesta aplicação é a precisão. Enquanto métodos tradicionais limitam-se a escalas de dezenas de quilômetros, as novas metodologias baseadas em IA conseguem trabalhar na escala de metros. Isso permite simulações detalhadas de como áreas verdes, padrões de urbanização e intervenções urbanas afetam o microclima de cada bairro ou rua.
Gabriel Perez, PhD em ciências do clima e cofundador da MeteoIA, desenvolveu o sistema MIA, que treina modelos de IA para aplicações climáticas. Já o Google criou o Heat Resilience, combinando IA com imagens aéreas e de satélite para combater ilhas de calor.
Esta aplicação de IA representa o tipo de inovação que defendo há anos: aquela que resolve problemas reais, gera impacto positivo e cria oportunidades de negócio com propósito. No meu mentoring com startups, frequentemente incentivo empreendedores a buscarem essas interseções entre tecnologia avançada e desafios socioambientais urgentes.
Pioneirismo feminino: a primeira mulher formada em IA no Brasil
Uma notícia que me encheu de esperança foi a história de Heloisy Pereira Rodrigues, de 24 anos, destacada pelo Poder360 como a primeira mulher do Brasil a se formar em Inteligência Artificial. Mais do que apenas conquistar essa formação, Heloisy decidiu empreender na área, criando a startup Macall.
A Macall desenvolve soluções de IA para o mercado de call center, com três produtos principais: um sistema para monitorar a qualidade das ligações, uma ferramenta que auxilia atendentes com sugestões automáticas, e um sistema de automação que conduz todo o atendimento por meio de IA.
O que torna esta história ainda mais relevante é a baixa representatividade feminina em áreas tecnológicas. Heloisy mencionou as barreiras culturais e a falta de estímulo que mulheres enfrentam neste campo. Com salários médios entre R$ 8.000 e R$ 12.000 mensais para formados na área, existe um potencial enorme para que mais mulheres ocupem esses espaços.
Durante minha trajetória no ecossistema de startups brasileiro, sempre defendi a diversidade como fator crucial para a inovação. Equipes diversas produzem soluções mais abrangentes e negócios mais resilientes. O pioneirismo de Heloisy representa um avanço importante e um exemplo inspirador para outras mulheres que desejam entrar neste campo.
A fronteira controversa: IA e conteúdo adulto
Nem todas as aplicações de IA seguem caminhos tão nobres quanto os anteriores. Uma tendência controversa foi relatada pelo Diário do Centro do Mundo: brasileiros estão criando conteúdo adulto com ferramentas de IA, no fenômeno conhecido como “IAs do job” ou “garotas do job”.
Utilizando sites de edição específicos, criadores simulam modelos e vendem esse material em plataformas como OnlyFans, Privacy e Fanvue. Elaine Pasdiora, de 35 anos, pioneira nesse mercado no Brasil, já faturou mais de R$ 20 mil entre janeiro e março de 2025, principalmente com a venda de cursos que ensinam a criar personagens virtuais.
Este caso ilustra perfeitamente o que tenho discutido sobre os dilemas éticos da IA. A tecnologia em si é neutra, mas suas aplicações podem levantar questões complexas. Estamos vivendo o início de uma era que exigirá novos marcos regulatórios, discussões éticas profundas e muita reflexão sobre limites.
É preocupante que a maioria das “garotas do job” siga um padrão estético específico, reforçando estereótipos. Também há questões legais envolvidas, como o uso indevido de fotos de pessoas reais sem consentimento – prática denunciada pelas próprias criadoras de conteúdo como Elaine Pasdiora e Elisabete Alves.
Enquanto o Senado discute a regulamentação do uso de IA no Brasil, este mercado continua crescendo, atraindo tanto defensores quanto críticos. O professor Cleber Zanchettin, da UFPE, destaca que a indústria de IA para conteúdo adulto é um segmento gigantesco e tende a expandir ainda mais.
O futuro da IA no Brasil: preparação é a chave
Analisando esse panorama diversificado das notícias das últimas 24 horas, fica claro que a IA já é uma realidade transformadora no Brasil, com manifestações que vão desde aplicações nobres até controversas, passando por medos executivos e pioneirismo feminino.
Para empresas, a mensagem é clara: não há como escapar da transformação digital impulsionada pela IA, mas é fundamental preparar-se adequadamente. CEOs e líderes precisam buscar conhecimento, experimentar, criar projetos-piloto e desenvolver competências internas.
Para empreendedores, as oportunidades são vastas. Seja desenvolvendo soluções de IA para desafios climáticos, criando ferramentas para otimizar call centers ou atuando nas fronteiras das novas aplicações (preferencialmente com responsabilidade ética), há espaço para inovação e criação de valor.
No meu trabalho de mentoria com startups e executivos, tenho ajudado líderes a navegar essas águas complexas, identificando oportunidades alinhadas com propósitos significativos e desenvolvendo estratégias para implementação responsável de IA.
O Brasil tem o potencial de ser um protagonista global em IA, não apenas como consumidor, mas como produtor de tecnologia e inovação. Para isso, precisamos de mais histórias como a de Heloisy, mais aplicações responsáveis como as de adaptação climática, e maior preparação dos nossos líderes empresariais.
A jornada da IA no Brasil está apenas começando, e estarei aqui acompanhando, analisando e contribuindo para que possamos aproveitar o melhor desta revolução tecnológica, minimizando riscos e maximizando impactos positivos.
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