Blog Felipe Matos

Radar da IA: Entre Demissões e Oportunidades – O Paradoxo da IBM e a Reinvenção Profissional nas Últimas 24h

maio 12, 2025 | by Matos AI

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O mundo da Inteligência Artificial continua sua marcha transformadora em ritmo acelerado, com notícias que parecem contraditórias à primeira vista, mas que revelam padrões importantes para compreendermos o futuro do trabalho e da tecnologia. Nas últimas 24 horas, o cenário da IA no Brasil e no mundo apresentou um caso emblemático na IBM, avanços na cooperação internacional para segurança, aplicações criativas na música brasileira e reflexões cruciais sobre adaptação profissional.

O caso mais intrigante vem da IBM, que após demitir 8.000 funcionários devido à automação, acabou precisando contratar mais pessoas. Seria este o padrão que veremos se repetir em outras empresas? Quais lições podemos extrair deste aparente paradoxo?

IBM e o paradoxo da automação: 8.000 demissões que resultaram em… contratações

Em janeiro de 2023, a IBM protagonizou uma das mais notórias ondas de demissões no setor tecnológico, anunciando o corte de 7.800 funcionários e indicando que até 30% de seu quadro poderia ser automatizado. A notícia causou apreensão no mercado e parecia confirmar os temores de uma substituição massiva de trabalhadores por sistemas de IA.


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No entanto, algo inesperado aconteceu: mesmo após essa vaga de demissões, o número total de colaboradores da empresa aumentou. Como explicar essa aparente contradição?

O que observamos é um fenômeno que venho estudando há anos em minha trajetória acompanhando transformações tecnológicas: a automação elimina determinados tipos de funções, mas cria demanda por novas habilidades e papéis. No caso da IBM, a empresa automatizou tarefas repetitivas de Recursos Humanos através do sistema AskHR, obtendo ganhos significativos de produtividade que permitiram realocar investimentos para áreas estratégicas.

Este caso ilustra perfeitamente o que chamo de “efeito acordeão” da automação: compressão em algumas áreas, expansão em outras. O resultado final depende da capacidade da empresa de reinvestir os ganhos de produtividade em novas frentes que exigem outras competências humanas.

Segurança global da IA: o “Consenso de Cingapura” e a corrida pela regulação

Enquanto empresas navegam os desafios da implementação da IA, a comunidade internacional busca estabelecer diretrizes para garantir que essas tecnologias não representem ameaças futuras. Um relatório divulgado após uma conferência global em Cingapura, realizada em abril, apresentou sugestões importantes para tornar a inteligência artificial mais segura.

O evento “Intercâmbio Científico Internacional sobre Segurança de IA” reuniu representantes de empresas líderes como OpenAI, Meta, Google DeepMind e Anthropic, além de líderes de 11 países, incluindo EUA, China e União Europeia. O resultado foi publicado no artigo “Consenso de Cingapura sobre Prioridades Globais de Pesquisa em Segurança de IA”.

O que me chama atenção nesta iniciativa são as três áreas prioritárias identificadas:

  • Avaliação de riscos: Criação de métricas para determinar quando a intervenção é necessária e garantir métodos rigorosos de testes
  • Imposição de limites entre comportamentos aceitáveis e inaceitáveis: Garantindo que os sistemas sejam treinados com dados verdadeiros
  • Controle humano: Implementação de monitoramento, “kill switches” e estruturas de supervisão centradas no ser humano

Este consenso surge em um momento crítico, após o Paris AI Action Summit (fevereiro/2025), que terminou com uma divisão clara entre os participantes – EUA e Reino Unido se recusaram a assinar uma declaração conjunta, evidenciando as tensões geopolíticas que permeiam o desenvolvimento tecnológico.

Em meus trabalhos de consultoria com empresas brasileiras, tenho percebido que essa falta de padrões globais gera insegurança no desenvolvimento de produtos e serviços. Afinal, como investir em soluções baseadas em IA sem clareza sobre quais práticas serão permitidas ou proibidas no futuro?

A voz que a IA devolveu: quando a tecnologia ressignifica trajetórias artísticas

Um dos casos mais emocionantes das últimas 24 horas vem do universo cultural brasileiro. O violonista e compositor Cleber Augusto, ex-integrante do grupo Fundo de Quintal, que não fala desde 2003 devido a um câncer nas cordas vocais, lançou um álbum cantando graças à inteligência artificial.

O álbum “Minhas andanças” foi lançado no fim de abril e é uma homenagem às composições do músico, contando com participações de artistas como Seu Jorge, Ferrugem, Mumuzinho e Diogo Nogueira. Para criar a voz artificial de Cleber, a empresa britânica MyVox processou dados de entrevistas e shows solo, contornando restrições relacionadas aos direitos autorais de álbuns anteriores.

O que torna esse projeto pioneiro é que o artista ainda está vivo e participou ativamente do processo de recriação de sua voz, utilizando uma laringe eletrônica para se comunicar durante as gravações. O álbum inclui músicas que o artista nunca gravou com sua própria voz e uma faixa inédita chamada “Ímã”, feita em colaboração com Péricles.

Este caso transcende o debate técnico sobre IA e nos coloca diante de questões profundamente humanas: como a tecnologia pode devolver possibilidades que pareciam perdidas e criar novos caminhos para a expressão artística?

“Quem vai roubar seu emprego é alguém que usa IA melhor que você”

Uma das frases mais impactantes do noticiário recente veio de Michelle Schneider, autora do livro “O Profissional do Futuro”, que afirmou: “Não é a Inteligência Artificial que vai roubar seu emprego. É alguém que sabe usá-la melhor do que você.”

Esta observação certeira, que coincide com o que venho defendendo há anos em minhas palestras e consultorias, coloca em perspectiva o verdadeiro desafio da era da IA. Não estamos simplesmente diante de uma substituição tecnológica, mas de uma transformação nas habilidades necessárias para prosperar no mercado de trabalho.

Segundo um estudo do Fórum Econômico Mundial citado por Schneider, 85 milhões de empregos poderão ser substituídos por tecnologias, enquanto 97 milhões de novas funções devem surgir. Essa transformação massiva exigirá que profissionais desenvolvam novas competências.

A especialista propõe quatro habilidades essenciais para se preparar:

  • Mente inovadora
  • Letramento tecnológico
  • Inteligência emocional
  • Cuidado com a saúde mental

Esta lista complementa o que tenho chamado em meus workshops de CACACA – as seis habilidades fundamentais para o futuro do trabalho: Criatividade e Autonomia; Colaboração e Adaptabilidade; Conexão e Afeto.

Schneider ainda observa que vivemos uma “hipnose coletiva” diante da revolução tecnológica, onde muitos negam a realidade das mudanças, fenômeno que tenho identificado como um dos principais obstáculos para a transformação digital efetiva nas organizações brasileiras.

O impacto positivo da IA nos pequenos negócios

Uma notícia que não conseguimos acessar completamente, mas cujo título indica um dado revelador: “IA nos negócios: 74% das PMEs veem impacto positivo, aponta Microsoft”. Este percentual expressivo sugere que, apesar dos receios amplamente divulgados, a maioria dos pequenos e médios empresários que já implementaram soluções de IA estão colhendo resultados favoráveis.

Esta perspectiva positiva contrasta com o discurso predominante sobre os riscos da tecnologia e reforça o que tenho observado em meu trabalho com startups e empresas em fase de digitalização: quando bem implementada e alinhada aos objetivos estratégicos do negócio, a IA funciona como um amplificador de capacidades, não como um substituto.

O que podemos aprender com as notícias das últimas 24 horas?

Analisando o conjunto de informações, emergem alguns padrões importantes:

  1. A automação é um processo de transformação, não apenas de substituição – Como vimos no caso da IBM, demissões em áreas automatizáveis podem ser compensadas por contratações em novas frentes
  2. A regulação da IA é um campo em disputa geopolítica – O consenso técnico nem sempre se traduz em acordos políticos, e isso afeta diretamente as empresas que desenvolvem e implementam estas tecnologias
  3. Aplicações criativas da IA expandem possibilidades humanas – O caso do músico Cleber Augusto mostra como a tecnologia pode criar novas formas de expressão e conexão
  4. A verdadeira ameaça não é a tecnologia, mas a falta de adaptação a ela – A capacidade de utilizar efetivamente as ferramentas de IA será um diferencial competitivo fundamental
  5. PMEs estão descobrindo o valor da IA – A percepção positiva de 74% das pequenas e médias empresas indica que a tecnologia está se tornando acessível e útil para além das grandes corporações

O futuro que se desenha é de uma convivência cada vez mais intensa com sistemas inteligentes, onde o diferencial humano estará não na competição direta com a máquina, mas na capacidade de direcioná-la, complementá-la e utilizá-la de formas criativas e significativas.

Como se preparar para este futuro?

Em meu trabalho de mentoria com profissionais, startups e empresas em transformação, tenho recomendado três abordagens fundamentais:

  1. Experimentação constante: Dedique tempo para conhecer e testar as novas ferramentas de IA disponíveis. Não é necessário dominar todas, mas entender suas possibilidades e limitações
  2. Desenvolvimento de competências complementares: Invista nas habilidades que as máquinas não conseguem replicar facilmente – criatividade, pensamento crítico, inteligência emocional e capacidade de colaboração
  3. Mentalidade de aprendizado contínuo: As ferramentas e possibilidades estão evoluindo rapidamente, o que torna o aprendizado contínuo não apenas desejável, mas essencial

No meu trabalho de mentoria, tenho ajudado profissionais e organizações a navegar esta transição, identificando oportunidades específicas para cada perfil e contexto. A jornada pode parecer desafiadora, mas também está repleta de possibilidades para quem estiver disposto a encarar a transformação com curiosidade e abertura.

A revolução da IA não é algo que acontecerá no futuro – ela já está em curso, reescrevendo as regras do mercado e redefinindo o que significa ser um profissional bem-sucedido. A questão fundamental não é se seremos afetados por essa mudança, mas como escolhemos participar dela.


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