Radar da IA: Geopolítica, Segurança e a Corrida Tecnológica – O Que Aconteceu nas Últimas 24h

A batalha geopolítica da IA se intensifica: EUA e China em disputa acirrada

Há pouco menos de dois anos, quando o ChatGPT foi lançado, a maior parte das pessoas encarava a inteligência artificial como uma curiosidade tecnológica. Hoje, estamos testemunhando uma verdadeira corrida armamentista digital, onde as maiores potências do mundo disputam o controle dessa tecnologia transformadora.

Um dos temas mais candentes das últimas 24 horas ilustra perfeitamente esse cenário: as grandes empresas de tecnologia americanas estão usando o “fantasma chinês” para tentar flexibilizar as leis de direitos autorais nos EUA. De acordo com reportagem do UOL, empresas como OpenAI, Google, Microsoft e Meta estão pressionando o governo americano a permitir o uso mais livre de conteúdos protegidos por direitos autorais no treinamento de modelos de IA.

O argumento central? “Se não fizermos isso, a China vai nos ultrapassar”. É o velho discurso da segurança nacional sendo aplicado à tecnologia. Não é à toa que a China tem um plano nacional para atingir a soberania em IA até 2030, enquanto os EUA ainda correm para formular seu “Plano de Ação da IA”.

Essa disputa vai muito além da tecnologia em si – é uma batalha por poder econômico, militar e cultural. O país que dominar a IA terá vantagens competitivas enormes em praticamente todos os campos. E os gigantes da tecnologia sabem disso.

A corrida por modelos mais potentes: Meta lança Llama 4

Enquanto isso, a corrida por modelos cada vez mais potentes continua a todo vapor. No último final de semana, a Meta lançou seu novo modelo Llama 4, que inclui duas variantes: Scout e Maverick. Segundo a reportagem do Poder360, ambas as versões são multimodais – ou seja, podem processar e integrar diferentes tipos de dados, como texto, vídeo, imagens e áudio.

O que chama a atenção é que a Meta mantém sua estratégia de código aberto, diferente da OpenAI e de outros players do mercado. Essa abordagem pode acelerar a democratização da IA, permitindo que mais desenvolvedores e empresas criem aplicações baseadas em modelos avançados.

Além disso, a Meta também apresentou o Llama 4 Behemoth, descrito como uma “IA professora” que ensina outros modelos menores. Conforme matéria da TeleSíntese, essa abordagem resulta em ganhos expressivos nos testes de raciocínio.

No entanto, há controvérsias: de acordo com o Blog do Esmael, a Meta estaria manipulando benchmarks, já que a versão do Maverick testada não seria a mesma disponibilizada ao público. Esse tipo de situação levanta questionamentos éticos importantes sobre a transparência na indústria de IA.

Bill Gates e o futuro do trabalho: preparados para a revolução?

“Dentro de uma década, a IA fará o que os humanos fazem”. A declaração não é minha, nem de um futurista qualquer, mas de Bill Gates, cofundador da Microsoft. Segundo reportagem do Tempo, Gates acredita que a IA redefinirá completamente o papel dos seres humanos em áreas como trabalho, educação e medicina.

Por um lado, ele vê oportunidades, como a eliminação da escassez de médicos em áreas carentes. Por outro, Mustafa Suleyman, diretor da Microsoft para IA, alerta que a tecnologia pode desestabilizar a força de trabalho e substituir empregos.

Os dados do LinkedIn reforçam essa tendência. Uma pesquisa citada pelo Estadão sugere que 70% das habilidades usadas na maioria dos empregos mudarão até 2030, sendo a IA um grande impulsionador dessas mudanças.

Há anos venho falando sobre o conceito de CACACA – as seis habilidades essenciais para o futuro do trabalho: Criatividade, Autonomia, Colaboração, Adaptabilidade, Conexão e Afeto. Em um mundo onde a IA assume tarefas repetitivas e analíticas, essas características tipicamente humanas se tornam ainda mais valiosas. No meu mentoring com empresas e profissionais, tenho enfatizado a importância de desenvolver essas habilidades para navegar com sucesso na nova economia.

O lado sombrio da IA: golpes e deepfakes ameaçam a segurança digital

Nem tudo são flores no mundo da IA. À medida que a tecnologia avança, criminosos também encontram formas mais sofisticadas de utilizá-la para fins maliciosos. O Correio Braziliense alertou sobre como a IA está tornando golpes cibernéticos mais convincentes e perigosos, com a criação de e-mails fraudulentos, mensagens de voz clonadas e vídeos manipulados com deepfakes.

Talvez o exemplo mais perturbador seja o das deepnudes, imagens de nudez produzidas por IA sem a autorização das pessoas retratadas. Segundo reportagem do G1, o impacto emocional nas vítimas é devastador, com relatos de jovens que não queriam mais voltar à escola após terem suas imagens falsificadas e distribuídas.

Esses casos evidenciam a necessidade urgente de regulamentação ética e jurídica da IA, bem como de educação digital para prevenir e combater esses abusos. Não podemos permitir que o avanço tecnológico se traduza em retrocesso social.

IA nas instituições públicas: o caso pioneiro de Gramado

Em meio a tantas notícias preocupantes, há também exemplos positivos de como a IA pode ser usada para melhorar serviços públicos. A Câmara de Vereadores de Gramado (RS) se tornou a primeira do Brasil a implementar uma inteligência artificial chamada LegIA em seu processo legislativo, conforme reportagem do Terra.

O objetivo é aumentar a eficiência, acessibilidade e transparência na Câmara, permitindo que os cidadãos compreendam melhor as leis propostas pelos vereadores. É um exemplo concreto de como a tecnologia pode aproximar o poder público da população, democratizando o acesso à informação.

Iniciativas como essa mostram que, apesar dos desafios, o Brasil tem potencial para usar a IA de forma inovadora e benéfica para a sociedade. Em minhas palestras e consultorias, frequentemente destaco casos como este para inspirar gestores públicos e privados a enxergarem as possibilidades transformadoras da tecnologia.

A IA na educação: oportunidades e riscos

O uso da IA por estudantes também está em evidência. Ferramentas como PDF To Brainrot permitem converter páginas de livros em gravações de poucos minutos, com áudio e imagens de fundo de jogos como Minecraft. Segundo a GZH, essas plataformas têm sido amplamente utilizadas por estudantes para resumir conteúdos.

No entanto, especialistas alertam que o uso excessivo dessas tecnologias pode ter efeitos negativos na aprendizagem. A professora Vivian Lisbôa sugere que vídeos curtos devem ser um complemento ao aprendizado e não a fonte principal.

Como alguém que fundou a primeira neo-universidade da América Latina, a Sirius, tenho uma visão clara sobre o papel da tecnologia na educação: ela deve ser uma aliada no processo de aprendizagem, não um atalho que comprometa o desenvolvimento cognitivo. A educação do futuro precisa equilibrar o uso de ferramentas tecnológicas com o desenvolvimento de habilidades críticas e socioemocionais.

O Brasil na era da IA: desafios e oportunidades

O cenário que descrevi até aqui nos leva a uma pergunta crucial: qual o lugar do Brasil nessa revolução tecnológica? Como empreendedor que já apoiou mais de 10 mil startups, vejo tanto desafios quanto oportunidades para nosso país.

Por um lado, temos exemplos inspiradores como o da Câmara de Gramado, mostrando que instituições brasileiras podem adotar a IA de forma inovadora. Por outro, enfrentamos problemas sérios como o uso malicioso da tecnologia para golpes e deepfakes, sem uma estrutura regulatória robusta para combatê-los.

Nossa posição na geopolítica da IA também é delicada. Enquanto EUA e China disputam a liderança global, corremos o risco de ficarmos para trás, importando tecnologia em vez de desenvolvê-la localmente. E com as previsões de Bill Gates sobre o impacto da IA no mercado de trabalho, precisamos urgentemente preparar nossa força laboral para as transformações que estão por vir.

No entanto, vejo motivos para otimismo. O Brasil tem um ecossistema de startups vibrante, universidades de ponta e uma cultura de inovação crescente. Se soubermos aproveitar essas vantagens e implementarmos políticas públicas adequadas, podemos não apenas acompanhar a revolução da IA, mas também contribuir significativamente para ela.

O que fazer diante desse cenário?

Se você é um empreendedor, gestor ou profissional preocupado com o impacto da IA em seu negócio ou carreira, algumas ações são fundamentais:

• Educação contínua: Mantenha-se atualizado sobre as tendências e aplicações da IA em seu setor.
• Desenvolvimento de habilidades CACACA: Invista em capacidades que as máquinas não podem replicar facilmente.
• Experimentação responsável: Teste aplicações de IA em seu negócio ou área de atuação, sempre com atenção aos aspectos éticos.
• Colaboração: Participe de comunidades e redes que discutem e desenvolvem soluções baseadas em IA.
• Advocacy: Engaje-se em discussões sobre políticas públicas e regulamentação da IA.

No meu trabalho de mentoria para startups e empresas, tenho ajudado organizações a navegar por essa transformação digital, identificando oportunidades de inovação e mitigando riscos. A IA não é apenas mais uma tecnologia – é uma mudança de paradigma que redefine como vivemos, trabalhamos e nos relacionamos.

O futuro não está escrito. Ele será moldado pelas escolhas que fazemos hoje, pela forma como desenvolvemos, regulamos e utilizamos a inteligência artificial. Tenho convicção de que, com a abordagem correta, podemos garantir que essa tecnologia revolucionária beneficie não apenas alguns privilegiados, mas a sociedade como um todo.

E você, como está se preparando para a era da IA? As notícias das últimas 24 horas são apenas uma pequena amostra do ritmo acelerado de transformação que estamos vivendo. Acompanhe este radar diário para se manter na vanguarda dessa revolução tecnológica.