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Radar da IA: Google ‘Modo AI’, Superinteligência e a Batalha Chinesa por Domínio em IA

março 7, 2025 | by Matos AI

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As últimas 24 horas foram intensas no mundo da IA, com movimentações que revelam tendências importantes sobre o futuro desta tecnologia. Nesta edição do radar diário, analiso os principais acontecimentos que estão moldando o mercado global de inteligência artificial e seus impactos para empreendedores, corporações e para a sociedade como um todo.

Google entra na guerra das buscas com IA

O Google finalmente respondeu aos concorrentes como Perplexity AI e ChatGPT com o lançamento do ‘Modo AI’ nas buscas. A gigante de Mountain View está tentando proteger seu território mais valioso – o mercado de buscas – que vem sendo constantemente ameaçado pelos novos players movidos a IA generativa.

Segundo informações do Terra, o recurso promete responder a perguntas longas e complexas com maior precisão, integrando o Gemini 2.0, a versão mais recente da IA do Google. Porém, o acesso ainda é restrito a assinantes americanos do Google One AI Premium, com custo mensal de R$ 97.

Esta movimentação mostra como o Google está tentando equilibrar a monetização de suas ferramentas de IA com a necessidade urgente de não perder relevância no mercado. A empresa que por anos lucrou com a publicidade nas buscas agora precisa repensar seu modelo de negócio para a era da IA generativa, onde as respostas diretas podem reduzir drasticamente o número de cliques em anúncios.

A corrida pela superinteligência: entre alarmes e oportunidades

Um dos alertas mais importantes das últimas horas veio de Eric Schmidt, ex-CEO do Google. Em artigo intitulado ‘Superintelligence Strategy’, Schmidt e seus coautores advertem contra uma corrida desenfreada pela criação de inteligência artificial geral (AGI), argumentando que esse desenvolvimento não deve seguir o modelo do Projeto Manhattan, que desenvolveu a bomba atômica.

De acordo com reportagem do Estadão, a preocupação é que uma competição global acelerada possa resultar em conflitos entre superpotências, semelhantes à corrida armamentista nuclear. Os autores defendem transparência e cooperação internacional como fundamentais para que a IA beneficie a humanidade.

Este alerta de Schmidt é particularmente relevante quando observamos o aumento da tensão geopolítica em torno da IA. Tenho acompanhado de perto como essas disputas tecnológicas estão moldando o cenário de inovação global, e vejo que startups precisam se posicionar de forma estratégica neste novo contexto internacional da tecnologia.

China avança: Alibaba desafia concorrentes com novo modelo de IA

Falando em competição global, a China continua fazendo movimentos importantes no tabuleiro da IA. A Alibaba anunciou o lançamento do modelo de inteligência artificial QwQ-32B, elevando suas ações em impressionantes 8,4%, o maior aumento desde o final de 2021.

Segundo o Poder360, mesmo com apenas 32 bilhões de parâmetros (significativamente menos que os 671 bilhões do modelo R1 da DeepSeek), a empresa afirma que seu modelo pode alcançar desempenho comparável, destacando-se em raciocínio matemático e codificação.

O mais interessante aqui é como a China está rapidamente desenvolvendo alternativas competitivas aos modelos ocidentais. A Alibaba claramente está apostando que a eficiência de um modelo menor pode superar o tamanho bruto de modelos maiores, o que revela uma abordagem estratégica diferente da corrida por modelos cada vez mais gigantescos.

Esta batalha entre empresas chinesas como DeepSeek e Alibaba foi inclusive tema de análise no podcast Deu Tilt do UOL, que colocou frente a frente as duas IAs chinesas para avaliar seus desempenhos em tarefas práticas, com o Qwen (da Alibaba) se destacando em várias delas.

Software supera hardware: investimentos em IA mudam de foco

Uma tendência importante detectada no mercado de capitais é a migração do interesse dos investidores de empresas de chips para empresas de software. De acordo com reportagem da CNN Brasil, após um ano de 2024 dominado por ações de fabricantes de chips, o mercado começa a priorizar empresas de software em 2025.

Os motivos incluem questões tarifárias e uma perspectiva de menor demanda após o surgimento de modelos de IA mais baratos, como os da chinesa DeepSeek. Esta mudança representa uma evolução natural para o investimento em IA, já que os casos de uso da tecnologia são principalmente sobre software.

Acompanho esta tendência de perto em meus trabalhos com startups e vejo que é um momento importante para empreendedores de software no Brasil. À medida que as ferramentas de desenvolvimento de IA se democratizam, as oportunidades para startups criarem soluções inovadoras aumentam exponencialmente – mesmo sem o capital necessário para investir em infraestrutura pesada de hardware.

Agentes de IA: o futuro da interação tecnológica segundo a OpenAI

Bret Taylor, presidente do conselho de administração da OpenAI, fez uma previsão audaciosa durante o Mobile World Congress (MWC): agentes de IA se tornarão tão importantes quanto aplicativos nos próximos 5 a 10 anos, transformando completamente a experiência digital dos usuários.

Segundo reportagem do Meio&Mensagem, Taylor enfatizou a necessidade de desenvolvimento e implementação responsável dessas tecnologias, destacando a importância da colaboração entre setores público e privado na regulamentação.

O que torna esta declaração particularmente interessante é que ela vem logo após notícias de que a OpenAI planeja cobrar até US$ 20 mil mensais por agentes de IA altamente especializados – com nível comparado a um doutorado. Isso indica claramente a estratégia de monetização que a empresa está planejando para o futuro.

Regulação de IA no Brasil: ANPD não vai esperar o marco legal

No Brasil, a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) deu um passo importante ao anunciar que avançará com a regulação dos sistemas de inteligência artificial mesmo antes da aprovação do marco legal da IA no país.

De acordo com o Valor Econômico, o presidente do órgão considera essencial que os algoritmos sejam fiscalizados de forma mais eficaz, considerando a natureza sensível dos dados que podem ser tratados pelas tecnologias de IA.

Esta é uma movimentação que merece atenção especial de startups e empresas que estão desenvolvendo ou implementando soluções baseadas em IA no Brasil. A regulação não deve ser vista como um obstáculo, mas como uma oportunidade para construir produtos mais seguros, éticos e alinhados com as expectativas da sociedade.

Em minha experiência trabalhando com o ecossistema de startups, tenho observado que empresas que se antecipam às regulações e incorporam princípios éticos e de proteção de dados desde o início têm vantagens competitivas significativas a longo prazo.

IA no mercado de trabalho: substituta ou complemento?

O eterno debate sobre o impacto da IA no emprego ganhou novos dados com um relatório do Fórum Econômico Mundial indicando que 41% das empresas globais planejam substituir parte de seus funcionários por IA.

Segundo o Correio Braziliense, apesar das preocupações, especialistas acreditam que a tecnologia não causará um colapso no mercado de trabalho, mas exigirá que os trabalhadores desenvolvam novas habilidades para se adaptar às mudanças.

Um exemplo prático desta transformação vem do McDonald’s, que está implementando IA em seus processos de trabalho para melhorar a experiência dos clientes e funcionários, modernizando seus 43 mil restaurantes com novas tecnologias, incluindo atendimento drive-thru com IA e ferramentas específicas para gerentes.

Tenho discutido muito este tema em minhas palestras sobre o futuro do trabalho. As habilidades que tenho chamado de CACACA (Criatividade e Autonomia; Colaboração e Adaptabilidade; Conexão e Afeto) se tornam ainda mais relevantes neste cenário. O trabalhador que consegue desenvolver estas capacidades e entender como trabalhar junto com a IA, e não contra ela, terá muito mais oportunidades neste novo mercado.

Quem responde pelos erros da IA?

Por fim, uma discussão importante sobre regulação está em andamento: a responsabilidade civil dos fornecedores de sistemas de IA por danos decorrentes de defeitos.

Segundo o Conjur, projetos em tramitação, como o marco legal da IA, propõem a categorização de riscos e estabelecem regras para a responsabilidade civil dos fornecedores, destacando a necessidade de um debate contínuo sobre regulamentações éticas e seguras.

Este é um tema que merece atenção especial de startups e empresas que estão desenvolvendo soluções baseadas em IA. A definição clara de responsabilidades será crucial para o desenvolvimento responsável da tecnologia e para a proteção dos consumidores e usuários.

O que isso significa para empreendedores e inovadores

Analisando todas essas notícias em conjunto, fica claro que estamos em um momento de aceleração da adoção de IA em todas as esferas, com especial destaque para:

  • A disputa geopolítica entre EUA e China pela liderança em IA
  • A mudança de foco dos investimentos do hardware para o software
  • O surgimento de agentes de IA como nova fronteira de interação digital
  • A necessidade urgente de regulamentação equilibrada
  • A transformação profunda do mercado de trabalho

Para empreendedores brasileiros, este cenário apresenta tanto desafios quanto oportunidades. As startups que conseguirem desenvolver soluções éticas, eficientes e que realmente agreguem valor terão um espaço significativo neste mercado em transformação.

Tenho observado em meu trabalho com aceleração de startups que as empresas que conseguem encontrar o equilíbrio entre inovação tecnológica e propósito humano são as que mais se destacam. A tecnologia por si só não é suficiente – é preciso resolver problemas reais de pessoas reais.

No meu trabalho de mentoria, tenho ajudado empreendedores a navegar por esse complexo cenário, identificando oportunidades genuínas e desenvolvendo estratégias que combinam inovação tecnológica com impacto positivo. Se você está construindo uma startup na área de IA ou buscando implementar essas tecnologias em seu negócio, considere como estas tendências podem afetar sua estratégia a longo prazo.

O futuro da IA está sendo escrito agora, e nós, como empreendedores e inovadores, temos a responsabilidade de garantir que ele seja construtivo, inclusivo e benéfico para toda a sociedade.

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