Blog Felipe Matos

Varejo Brasileiro Substitui Vendedores por IA no WhatsApp Enquanto Google Promete Treinar 200 Mil Gratuitamente — Por Que Este Momento Define o Futuro do Trabalho

setembro 11, 2025 | by Matos AI

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Uma transformação silenciosa está acontecendo bem diante dos nossos olhos. Enquanto navegamos pela timeline do WhatsApp respondendo mensagens de amigos, uma revolução comercial está redefinindo completamente a relação entre empresas e consumidores no Brasil.

A Folha de S.Paulo trouxe uma reportagem que me fez parar para refletir: grandes redes como Biscoitê, Magazine Luiza e Azzas 2154 (do grupo Arezzo-Soma) estão substituindo vendedores humanos por inteligência artificial generativa. E não estão apenas testando — estão escalando massivamente.

Beatriz Nunes, uma das melhores vendedoras da Biscoitê, foi promovida para treinar Maitê, uma IA que agora opera 24 horas por dia, responde em um segundo e nunca deixa perguntas sem resposta. É uma ironia fascinante: a melhor vendedora humana agora ensina uma máquina a substituir… vendedores humanos.


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O Brasil na Vanguarda da Revolução Conversacional

O timing não é coincidência. O Brasil é um dos três maiores mercados do WhatsApp globalmente, com 99% dos smartphones brasileiros tendo o aplicativo instalado. Segundo pesquisa da Panorama Mobile Time, 97% dos brasileiros usam o WhatsApp diariamente.

Conrado Leister, VP do Meta Brasil, destacou algo que me chamou atenção: 84% dos brasileiros preferem se comunicar com empresas no WhatsApp da mesma forma que fazem com amigos e família. Estamos falando de um comportamento cultural profundo sendo capturado por uma tecnologia disruptiva.

Os números impressionam. A Off Premium, marca do grupo Azzas, viu sua taxa de recuperação de carrinho abandonado saltar de 0,5% para 13% com a implementação de Jaque, sua consultora virtual. A Magazine Luiza planeja que todas as compras possam acontecer através da interação com Lu, sua influenciadora digital.

Quando a Eficiência Encontra o Dilema Humano

Aqui reside o paradoxo fascinante desta transformação. As IAs generativas custam entre 10% e 20% do salário mensal de um vendedor humano. Operam sem pausas, sem comissões, com acesso instantâneo a inventários e históricos de compra. Parece uma vantagem competitiva imbatível.

Mas há uma tensão real acontecendo. O Sindicato dos Trabalhadores do Comércio Varejista de São Paulo aponta que São Paulo perdeu 15 mil caixas em quatro anos devido a self-checkouts com IA. De 50 mil para 35 mil trabalhadores. A entidade está negociando limites para essas substituições.

Como alguém que passou décadas trabalhando com startups e transformação digital, entendo que toda disrupção tecnológica gera esse tipo de tensão. A questão não é se a mudança vai acontecer — ela já está acontecendo. A questão é como nos preparamos para ela.

A Resposta Está na Capacitação Massiva

E aqui entra uma notícia que me deu esperança. O Google Cloud anunciou que vai treinar gratuitamente 200 mil pessoas na América Latina em IA generativa. No Brasil, serão 20 instituições parceiras, incluindo SENAI-SP, PUC-MG, Insper e Mackenzie.

Não é coincidência que isso esteja acontecendo agora. Quando grandes empresas investem em capacitação massiva, é porque sabem que a demanda por pessoas que entendem de IA vai explodir. Elas não estão formando concorrentes — estão formando o mercado futuro.

Paralelamente, o MEC e a UFRN lançaram o primeiro curso sobre IA da Universidade Aberta do Brasil, voltado para educadores. E o Serpro, em parceria com Microsoft Philanthropies, oferece o curso “FluêncIA para Professores”.

A IA Generativa Chegou às Salas de Aula

Falando em educação, uma matéria do G1 sobre o uso de IA no ENEM 2025 me fez refletir sobre como estamos formando a próxima geração. Professores estão orientando estudantes a usar ChatGPT, Gemini e Claude para otimizar estudos — desde resumos personalizados até correção de redações.

Ademar Celedônio, do grupo SAS, fez uma colocação que resume tudo: “a IA não substitui o estudo, mas pode acelerar processos como resumir, treinar, explicar e corrigir conteúdos”. É sobre amplificação, não substituição do esforço humano.

E o Google lançou o Modo IA em português, permitindo buscas mais complexas e conversacionais. Estamos vendo a democratização de ferramentas que antes eram privilégio de poucos.

Os Riscos que Não Podemos Ignorar

Mas nem tudo são flores. O governo brasileiro está discutindo proteções contra deepfakes e fraudes no projeto de lei sobre IA. João Brant, da Secom, destacou dois problemas urgentes: proteção de mulheres e crianças contra imagens não consensuais e prevenção de golpes digitais.

Um caso no TRT da 2ª região exemplifica outro risco: uma parte foi multada por incluir ementas jurisprudenciais inventadas pela IA em recursos. O tribunal foi claro: “a utilização de IA depende de comandos humanos e a parte tem o dever de conferir integralmente o conteúdo apresentado”.

A Internet Artificial e o Futuro dos Criadores

Há ainda uma discussão mais profunda acontecendo. James Görgen, no TELETIME, trouxe dados alarmantes sobre a “internet morta”: 51% do tráfego web é automatizado, com crawlers de IA consumindo banda dos criadores sem retorno financeiro.

É um paradoxo fascinante: as IAs precisam de conteúdo humano para funcionar, mas sua operação ameaça a sustentabilidade de quem cria esse conteúdo. A Cloudflare já lançou ferramentas para sites cobrarem pelo acesso de bots de IA — uma tentativa de equilibrar essa equação.

O Momento de Escolher o Futuro

Estamos vivendo um momento histórico. A transformação não está chegando — ela já chegou. Vendedores estão sendo substituídos por IAs, estudantes usam algoritmos para estudar, professores aprendem a ensinar com máquinas, e até a internet está sendo reformulada.

A pergunta não é se devemos resistir ou aceitar. A pergunta é: como vamos nos posicionar nesta nova realidade?

Vejo três caminhos claros:

  • Capacitação Contínua: Aproveitar as iniciativas gratuitas de treinamento. Google, governo e grandes empresas estão investindo pesado em formação.
  • Complementaridade, Não Competição: Como Beatriz, que virou treinadora de IA, ou como os professores que usam IA para potencializar o aprendizado.
  • Criação de Valor Humano: Focar no que as máquinas ainda não fazem bem: criatividade, empatia, julgamento contextual, relacionamento humano.

A Oportunidade Brasileira

O que me impressiona é como o Brasil está se posicionando nesta corrida. Somos líderes globais no WhatsApp, estamos criando casos de uso únicos de IA conversacional, e temos iniciativas massivas de capacitação acontecendo simultaneamente.

Não estamos apenas copiando modelos internacionais — estamos criando o nosso próprio caminho. E isso é estratégico.

Em meu trabalho de mentoria com startups, sempre enfatizo que as maiores oportunidades emergem nos momentos de maior transformação. Este é um desses momentos.

A escolha está nas nossas mãos: podemos ser protagonistas desta transformação ou espectadores dela. Mas uma coisa é certa — ela não vai esperar por nós.

No meu mentoring, ajudo empreendedores e líderes a navegarem exatamente essas transformações, identificando oportunidades onde outros veem apenas ameaças. Porque no final, toda grande mudança tecnológica cria mais valor do que destrói — mas apenas para quem sabe se posicionar estrategicamente.


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